O secretário do Meio Ambiente, Jonel Iurk, o presidente da Fiep, Edson Campagnolo, e o governador Beto Richa assinam os termos de compromisso entre a indústria e o poder público (Foto: Gilson Abreu)
O governador Beto Richa, o secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Jonel Yurk, e o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo, assinaram nesta segunda-feira (10) os termos de compromisso de 11 setores da economia paranaense com a Logística Reversa. A medida visa adequar o setor produtivo do Estado para atender à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada pelo Congresso Nacional em 2010, que institui a obrigatoriedade da Logística Reversa, ou seja, o caminho contrário que o produto faz após o seu consumo, passando por toda cadeia produtiva, voltando até o fabricante, que lhe dará a destinação final ambientalmente correta.
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No Paraná, esta regulamentação é conduzida pela Sema, que lançou este ano um edital convocando a indústria do Estado a se comprometer com esta prática, que envolve também o comércio, importadores e os consumidores. Dos 100 sindicatos industriais de base estadual filiados à Fiep, 65 já se comprometeram com a secretaria.
A convocação tem como objetivo construir a proposta para Logística Reversa de forma conjunta, pelo governo e pela indústria do Estado. Segundo o governador, o diálogo foi a tônica dessas discussões “Assinamos um pacto com as indústrias, em um processo democrático e transparente. Quem ganha com isso é a natureza e todos nós. Fico feliz de ter essa parceria produtiva e de resultados extraordinários para nosso Estado”, disse.
A assinatura ocorreu durante a reunião de diretoria da Fiep, que reúne dirigentes sindicais de todas as regiões do Paraná. “Estamos sendo pró-ativos, não estamos esperando o problema chegar para depois buscar uma solução, estamos nos adiantando”, afirmou Edson Campagnolo. “A indústria não está vendo apenas as suas questões internas, está olhando para as gerações futuras”, completou o presidente da Fiep.
Para articular a participação do setor produtivo e orientar as indústrias a se adequarem à Logística Reversa, a Fiep realizou diversas ações, como a criação de um Comitê de Logística Reversa para discutir a prática dentro da Federação e a realização de uma videoconferência transmitida para todas as regiões do Estado, para tirar dúvidas dos sindicatos do interior sobre esta legislação.
As entidades que assinaram o termo de compromisso com a Sema devem iniciar a elaboração de planos setoriais no primeiro semestre de 2013. Elas terão 60 dias para se adequar às propostas e mais 180 dias para implantá-las. Para facilitar a construção destas propostas, a Fiep organizou a indústria paranaense em 18 cadeias produtivas. As propostas serão construídas dentro de cada cadeia, prevendo a participação de todos os atores envolvidos.
Desafios
Entre os sindicatos filiados à Fiep que se comprometeram a elaborar propostas para a logística reversa de seus produtos, boa parte está em fase inicial de estudos sobre a melhor maneira de executar o processo. É o caso do Sindicato das Indústrias de Cacau e Balas, Massas Alimentícias e Biscoitos de Doces e Conservas Alimentícias do Paraná (Sincabima). O presidente da entidade, Rommel Barion, explica que o setor possui um grande potencial para reciclagem de suas embalagens. “Nossas indústrias têm diversos tipos de embalagem, seja de papel, plástico, alumínio, vidro ou outros materiais, que são aproveitadas para reciclagem quando recolhidas”, afirmou. “Hoje não temos um programa de recolhimento dessas embalagens, mas vamos encontrar soluções para fazer isso de maneira eficiente”, acrescentou.
Segundo Barion, uma dificuldade a ser enfrentada pelas empresas do setor é o recolhimento dos resíduos em outros estados do País. “O Sincabima tem em sua base 640 indústrias espalhadas pelo Paraná, muitas delas vendendo seus produtos para todo o Brasil. Recolher essas embalagens em outros estados é um desafio que teremos que enfrentar”, explicou.
Organizar a coleta de resíduos espalhados por todo o território nacional é um desafio também para produtos com maior valor agregado, como telefones celulares. Em 2011, foram produzidos 65 milhões de aparelhos no Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). A produção dá uma ideia da quantidade de produtos dessa categoria que deixam de ser utilizados a cada ano, levando em conta que o País possui cerca de 260 milhões de linhas ativas. Nesta segunda-feira, a Abinee foi uma das instituições que assinou o termo de compromisso com a Sema para estruturar a logística reversa dos aparelhos no Paraná.
O presidente da Abinee, Humberto Barbato, explica que a maneira como esse processo será realizado na prática é uma preocupação dos fabricantes. “O recolhimento dos produtos é relativamente simples, mas depende do desejo tanto do consumidor para descartar corretamente o aparelho como dos pontos de venda para recolher esses produtos”, disse Barbato. “Além disso, para os fabricantes tem a questão da logística em si, o processo de buscar esses produtos de ponto em ponto, de cidade em cidade”, completou.
Barbato afirmou ainda que esse processo vai gerar custo para as indústrias, mas que podem ser compensados com as oportunidades de negócios que se abrem com a reciclagem. “Vai existir um custo para as empresas, que ainda não sabemos calcular porque a logística reversa é uma coisa muito nova, mas o processo também vai permitir um maior aproveitamento de matérias primas que vão ser recicladas”, afirmou. E independente de custos ou oportunidades, o presidente da Abinee ressaltou que a correta destinação dos resíduos industriais é um caminho sem volta. “Implantar mecanismos de logística reversa é um processo irreversível em qualquer país que se diga organizado. Temos que procurar a melhor maneira possível de executá-la”, disse.
Iniciativa de sucesso
Em determinados casos, a descoberta dessa fórmula já é uma realidade. Apesar de a legislação que institui a prática da Logística Reversa ser recente, alguns setores já estão bem adiantados neste sentido, como a indústria de bebidas do Paraná. Segundo o presidente do Sindibebidas, Nilo Cini Júnior, “é possível conciliar o interesse social, o interesse do meio ambiente e o da indústria do Estado para que a cadeia de reciclagem agregue mais valor.”
Segundo ele, há dois anos o setor de bebidas paranaense iniciou um projeto de logística reversa das suas embalagens que hoje opera de forma sustentável. Através do sindicato, as empresas criaram uma central para a reciclagem do plástico utilizado nas embalagens. Hoje, 70% deste material é reciclado e volta para a cadeia produtiva e a operação da central é auto-sustentável. A chave para o sucesso da iniciativa, segundo Cini, foi colocar o foco no catador de material reciclável. “Hoje quem cata ganha mais dinheiro, e assim tem mais incentivo para realizar este serviço”, afirma.
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