Simadi
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. - 05/09/2011

Desindustrialização é fruto da política cambial e juro alto

Especialistas, como o ex-ministro Bresser-Pereira, indicam soluções para o futuro da indústria brasileira em seminário na Fiep

Bresser-Pereira fala durante seminário na Fiep: "Desindustrialização no Brasil é prematura" (Foto: Rogério Theodorovy)

O processo de desindustrialização em curso no Brasil decorre, principalmente, de dois fatores: o câmbio supervalorizado e a alta taxa de juros vigente. A análise foi consenso entre os especialistas reunidos na Fiep nesta sexta-feira(02) no seminário “A Desindustrialização do Brasil”, que teve a participação de grandes nomes da ciência econômica, como o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, o economista e sociólogo polonês Ignacy Sachs, além dos economistas Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP); José Oreiro Costa, da Universidade de Brasília (UnB), e Gilmar Lourenço, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

“Perdemos para a China, não porque as empresas deles são mais eficientes, mas porque sua taxa de câmbio é muito favorável.”, observa Bresser-Pereira. Na sua avaliação, se estas duas questões fossem sanadas, boa parte do problema estaria resolvida. “Não totalmente, pois existe ainda a ‘doença holandesa’.”, afirma ele referindo-se ao conceito econômico aplicado aos países onde a abundância de recursos naturais leva ao declínio do setor de manufatura.

Desta forma, o ex-ministro aprova a decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) que esta semana reduziu em meio ponto percentual a taxa de juros. Segundo ele, esta foi uma decisão corajosa. “O governo deixou claro que é seu objetivo a convergência da taxa de juros para níveis internacionais.”, diz. Segundo ele, juros altos, além de aumentarem consequentemente a dívida pública, atraem capital estrangeiro, o que prejudica a manutenção de um câmbio favorável. Por outro lado, uma taxa menor permite que as empresas brasileiras captem financiamentos em melhores condições.

Segundo dados da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), em 1984 a participação do setor industrial na composição do Produto Interno Bruto (PIB) era de 35,9%. Em julho de 2011, esta participação era de apenas 15,8%. Segundo o economista Nelson Marconi, o quadro é ainda pior quando avançamos mais longe na história: “A participação da indústria no PIB brasileiro hoje é menor da que se registrava em 1947”, aponta.

Este dado vai ao encontro do resultado do PIB do segundo trimestre de 2011 divulgado nesta sexta-feira (02) pelo IBGE. Na comparação com o primeiro trimestre do ano, o PIB industrial cresceu apenas 0,2%, puxando para baixo o resultado total do período que foi de 0,8%. Na comparação com o segundo trimestre de 2010, o crescimento do PIB industrial foi de 1,7%.

Para Bresser-Pereira, as baixas taxas de crescimento do país são “consequência de não se ter ajustado a economia quando isso era possível.” Na opinião do ex-ministro a indústria brasileira pode crescer fortemente nos próximos dois anos se ajustar sua taxa de juros e sua política cambial. “Se isso não acontecer, daqui a dois anos teremos outra crise.”, alerta.

Infraestrutura – De acordo com os palestrantes, outro fator que mina a competitividade das indústrias brasileiras e eleva de modo geral o chamado “custo Brasil” é a infraestrutura deficiente, que aumenta os custos das operações industriais e de transporte.

Para Gilmar Lourenço, do Ipardes, é necessário promover as reformas tributária, fiscal e trabalhista para que seja possível realizar os investimentos necessários nesta área. Na opinião de Bresser-Pereira, infraestrutura é papel do Estado, que deveria ter uma poupança pública maior para poder investir mais neste setor. “É uma área que não é controlada pelo mercado, então não há razão para ficar com o setor privado.”, avalia.

Prematura – A desindustrialização é um fenômeno normal em qualquer economia, porém, no Brasil, assusta o fato dela surgir de forma tão prematura. A análise é do ex-ministro Bresser-Pereira, que aponta o caso de países da Europa, onde a desindustrialização vem como consequência da migração da mão de obra especializada para setores mais sofisticados do que a indústria, como consultorias, serviços tecnológicos e financeiros.

Este, porém, não é o caso do Brasil, cujo diagnóstico da desindustrialização tem outros motivos, como o descompasso do câmbio e da taxa de juros em relação a outras economias. Para o ex-ministro, quando a desindustrialização é consequência de um maior refinamento das atividades econômicas, como no caso da Europa, é um processo sadio, mas quando isto acontece em uma economia emergente, antes da consolidação definitiva de seu parque industrial, é hora de corrigir os rumos.

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