A indústria do Paraná entra em 2011 com a expectativa de ter um ano de crescimento, mas com limitações impostas pela má qualidade da gestão pública. O cenário traçado pela Sondagem Industrial 2011, pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), mostra que os empresários industriais estão fazendo a lição de casa, com investimentos em tecnologia, ganho de produtividade e capacitação da mão de obra, e que isso se traduz em uma visão otimista para o ano que vem. Ao mesmo tempo, eles enxergam na pesada carga tributária, encargos sociais elevados e juros altos entraves para que o crescimento seja mais acelerado.
Segundo a Sondagem Industrial, que ouviu 490 executivos do setor, 86,4% dos entrevistados dizem ter expectativas favoráveis para 2011. Este é o quarto melhor resultado na série iniciada em 1996 - o levantamento, feito entre o fim de outubro e o início de novembro, ainda não reflete o impacto das medidas tomadas pelo Banco Central para conter o crédito no País.
Na pesquisa de 2010, o indicador ficou em 87,7%, antecipando a recuperação da economia após a crise. Entre os empresários que demonstram otimismo, a maioria (38,7%) diz que fará novos investimentos, enquanto 23,5% apontam a tendência de contratar mais trabalhadores.
Os investimentos devem ocorrer apesar dos desafios levantados pela pesquisa. A carga tributária elevada foi apontada como a principal dificuldade para manter a competitividade do setor - este item foi assinalado por 76,9% dos executivos. Também estão entre os problemas os encargos sociais (63%) e o custo financeiro (35,8%).
"O empresário, por natureza, é um otimista. A pesquisa reflete em grande parte o momento atual de reação à crise. A economia brasileira mostrou muita vitalidade ao atravessar a crise, mas não podemos esquecer a necessidade de mudanças para que o crescimento seja sustentável", comentou o presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures.
Na opinião dele, a primeira mudança fundamental para que o País supere os gargalos revelados pela pesquisa é a formulação de uma política econômica que priorize a poupança interna, através do ajuste fiscal. Esse seria um caminho para a redução dos juros e dos tributos que restringem a competitividade brasileira.
Rocha Loures também argumentou que o governo precisa deixar de usar os juros altos e o câmbio valorizado como ferramentas de controle da inflação, adotando em seu lugar uma "âncora fiscal". "Precisamos de uma política de corte de gastos correntes e de modernização da máquina pública, o que liberaria recursos para o investimento e reduziria a pressão pela apreciação do real", explicou.
Com mais poupança interna, seria aberto espaço para melhorar o perfil de financiamento dos investimentos, ainda dependente do caixa das empresas. Segundo a Sondagem Industrial, quase 84% das companhias usam capital próprio para investir, enquanto o uso de linhas de crédito governamentais está nos planos de 55% dos entrevistados. O acesso a recursos de bancos privados ainda é restrito e entra na estrutura de financiamento em apenas 15% dos casos.
Essa estratégia econômica, na opinião do presidente da Fiep, precisa ser associada a um salto na qualidade da educação, em especial no nível fundamental e no direcionamento de recursos para pesquisas aplicadas. "As universidades também precisam formar pessoas de acordo com a necessidade de desenvolvimento de suas regiões", defendeu. Sondagem revela que a indústria do Paraná tem tentado superar os gargalos com investimentos em tecnologia e a busca de ganhos de produtividade. Atualmente, 85% das empresas dizem estar tecnologicamente em dia ou adiantadas em relação aos competidores nacionais - em 2002, esse índice era de 72%. Em relação aos concorrentes internacionais, o indicador passou de 36% em 2002, para quase 45% no último levantamento.
Envie para um amigo