Simadi
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. - 22/10/2010

Entidades e governo debatem riscos de desindustrialização do País

Durante painel que teve a participação do presidente da Fiep, foi apresentado um estudo mostrando que o Brasil se desindustrializa prematuramente em comparação a outras nações

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, participou do painel "Riscos de desindustrialização", realizado no último dia do IX Encontro Nacional da Inovação Tecnológica (Enitec), nesta quinta-feira (21), em São Paulo. Durante as discussões, os debatedores constataram que a indústria brasileira passa por um processo de desmonte progressivo há quase 30 anos.

Para o presidente da Fiep, a reversão desse processo passa pelo desenvolvimento tecnológico dos produtos brasileiro. Atualmente, o panorama não é favorável a isso, ficando restrito a áreas específicas. "Temos ilhas de dinamismo tecnológico no Brasil, do ponto de vista da competência de empresas isoladas, pesquisadores e pólos industriais, apesar da insuficiência das políticas públicas, da carga tributária que onera investimentos, do ambiente de juros adverso para os investimentos e da burocracia", afirmou Rocha Loures.

Segundo ele, é preciso um maior suporte governamental que possibilite a expansão do desenvolvimento tecnológico no País. "O governo precisa prestar apoio a setores transversais, como os de bens de capital e de eletroeletrônicos, que dão competitividade para a economia como um todo. Até o agronegócio depende disso", disse, referindo-se também a políticas econômicas e comerciais.

Queda progressiva

Durante o painel, o professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Nelson Marconi, apresentou um estudo sobre o tema, que confirma a queda progressiva da participação da indústria no PIB brasileiro. De 1995 a 2007, o setor que mais aumentou sua fatia foi o de commodities agrícolas e extrativas.

Em todos os países nos quais houve redução relativa da atividade industrial - Alemanha, França, Itália, Reino Unido e outros -, a renda per capta se encontrava em patamar superior à do Brasil, que era de US$ 4 mil quando o País começou a se desindustrializar. Esse é um dos fatores que tornam o processo preocupante, segundo Marconi, já que o valor adicionado per capta é gerado, principalmente, pela indústria, em especial a de alto conteúdo tecnológico, e demonstra o crescimento da economia. Isso quer dizer que a desindustrialização brasileira seria um acontecimento prematuro.

De acordo com o estudo, os setores que mais aumentaram a importação foram os de bens intermediários e de combustíveis. Neste momento, começa a aparecer a elevação nos bens de consumo, alterando o perfil das importações para os produtos acabados. Em uma das hipóteses para explicar o fenômeno, a indústria, em vez de produzir, tem feito o que Marconi chama de hedge produtivo - ela exporta, porém importa muito mais, fundamentalmente insumos para reduzir os custos de produção em função do dólar desvalorizado. "Estamos desestruturando a cadeia produtiva", concluiu, fazendo o contraponto: "Mas essa desindustrialização vai levar um tempo para ficar latente e aparecer".

Como proposta para mudar o quadro, o especialista apontou o tripé formado por políticas externa, macroeconômica e setoriais. As medidas necessárias seriam no sentido de desvalorizar o câmbio, promover negociações internacionais no campo da Organização Mundial do Comércio (OMC) e outras instâncias para proteger produtos nacionais, e implantar políticas de pesquisa e desenvolvimento e de ampliação dos financiamentos de acordo com as demandas de segmentos industriais.

Desmanche das cadeiras produtivas

Pensando a desindustrialização brasileira para além dos aspectos macroeconômicos, João Carlos Ferraz, do BNDES, defendeu que melhorar o estágio de desenvolvimento da indústria dependerá do casamento de estratégias públicas e privadas, além de uma postura mais nacionalista de empresas e sociedade, privilegiando produtos nacionais e se capacitando para enfrentar os desafios da competitividade mundial. Ele questionou a existência de um processo de desindustrialização. "Não podemos generalizar. Isso acontece por dentro da cadeia produtiva em alguns setores". Para Ferraz, é preciso criar estratégias setoriais, de maior complexidade. Sobre a queda da participação na indústria no PIB, ele disse: "O que importa também é a natureza das atividades. Se forem intensivas em tecnologia, ficaremos mais confiantes no País. Não é só a quantidade, mas a qualidade (do que é produzido)".

Klaus Curt Muller, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), apresentou dados em que a participação da indústria no PIB era de 40% no ano de 1975. Em 2006, baixou para 29%. E se fosse selecionada nesse grupo apenas a indústria de transformação, o resultado seria ainda pior. Somada a isso, a participação da indústria brasileira no PIB mundial segue estagnada. No caso dos bens de capital, o consumo aparente tem alavancado a importação, segundo Muller, já que fatores como câmbio e juros deixam o produto nacional sem competitividade. "Alguns podem falar que estamos importando produtos tecnológicos (que seriam inexistentes no País). Eu diria que estamos importando qualquer coisa. Tenho comparado e vejo que são produtos idênticos ou de tecnologia mais baixa que a nossa".

Humberto Barbato, presidente da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (PROTEC) e da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), disse que a situação é tão grave que há empresas pedindo para que não sejam tomadas medidas contra a importação. "Já temos filiados dependentes de importação. É como um câncer que se espalha por toda a cadeia produtiva. Claro que ocorre uma série de investimentos no País, mas tem uma série de setores que estão desestruturados".

Ele mencionou que transformadores, disjuntores, cabos, torres e outros produtos do setor elétrico, em que o Brasil tem indústria consolidada, estão vindo da China. Segundo Barbato, as ligações Tucuruí-Manaus e Tucuruí-Macapá foram todas feitas com produtos chineses e o mesmo só não acontecerá com a construção da usina de Belomonte pois o setor se movimentou para pedir providências do governo, obtendo uma linha de financiamento do BNDES. Em todo a área de eletroeletrônicos, as importações de produtos acabados é de 20% do faturamento e o déficit comercial deve chegar US$ 25 bilhões este ano. Por isso, Barbato sugeriu o aumento do imposto de importação de alguns itens provisoriamente.

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