Apesar da economia brasileira vir colecionando diversos índices positivos, especialmente neste ano, nem todos os setores estão conseguindo desfrutar do clima de euforia.
Tal discrepância, segundo a CNI, ocorre porque os problemas decorrentes da crise
afetaram setores específicos, principalmente, aqueles dependentes do mercado externo. Madeira, móveis, couros
e calçados foram os segmentos que se reconheceram como os mais atingidos.
O câmbio impactando negativamente
no volume de produtos exportados e a consequente dificuldade de acesso ao crédito são os principais obstáculos
para a retomada das indústrias em dificuldade no país.
“O crédito voltou à normalidade para quem voltou à normalidade, mas para os setores que permanecem com problemas de caixa, só diminuiu o acesso a financiamentos”, explica o gerente executivo de políticas econômicas da CNI, Flávio Castelo Branco.
De acordo com o levantamento da CNI, entre as empresas que não retomaram o padrão normal de investimentos e que buscaram crédito, 59% afirmou estar mais difícil o acesso após 2008. Já entre aquelas que conseguiram recuperar o mesmo nível de investimentos, 27% declarou isso.
No quesito exportações, 51% das empresas que exportam reconhecem
que a demanda externa é menor do que antes da crise. “Quando pegamos as notícias boas sobre o desempenho
da indústria brasileira, observamos apenas a média, porém, algumas empresas grandes acabam absorvendo
os resultados ruins de outras”, ressalta Branco.
Para ele, o governo deve dedicar uma atenção especial a esses segmentos com
problemas. “A CNI já vem buscando alertar o Ministério da Fazenda sobre a necessidade de criar meios de
melhorar a competitividade desses setores, bem como elaborar mecanismos de incentivos via tributação e via o
desenvolvimento de linhas de crédito específicas”, revela Branco.
Do total de empresas ouvidas
pela pesquisa, 72% responderam que foram afetadas pela crise. Dos 27 setores da indústria de transformação
analisados, 20 avaliaram que os impactos da crise ainda não foram totalmente superados. A sondagem foi realizada de
30 de junho a 20 de julho deste ano, com 1.353 empresas, das quais 771 pequenas, 393 médias e 189 de grande porte.
Outros
resultados
De acordo com o estudo da CNI, para 68% das empresas que sentiram os efeitos negativos da crise,
a demanda interna é maior hoje ou permanece inalterada em relação à fase pré-crise, enquanto
que para 32% o mercado doméstico se reduziu.
Outros dados que constam na sondagem destacam que a produção aumentou ou permanece a mesma para 63% das empresas e diminuiu para 36% delas. Já em relação ao número de empregados, 69% responderam que houve crescimento ou se manteve estável, enquanto que para 27% houve redução.
Um dos setores mais tradicionais da economia paranaense, o setor madeireiro, há
pelo menos quatro anos não consegue compartilhar da sensação de bem-estar econômico que tomou conta
da indústria nacional.
Voltado basicamente para o mercado externo, o setor vem sendo pressionado seguidamente pelo câmbio. “Não temos mais preço para competir com a China no mercado internacional. O nosso câmbio inviabilizou a produção”, lamenta o empresário Luciano Camilotti da Industrial Madeireira Camilotti (IMC).
Desde 2007, para não fechar as portas de sua empresa, Camilotti precisou reduzir
em mais de 50% a produção de madeira (de 800 m³ para 370 m³) e enxugou para um terço o quadro
de funcionários (passou de 154 para 56).
“Com a queda nas exportações, as empresas passaram
a contar com o mercado interno, porém, ele não dá conta de absorver o volume que produzíamos há
quatro anos, nem remunera com os valores que recebíamos do mercado internacional, se nada for feito, a tendência
é que mais empresas fechem”, aponta o empresário.
“A situação só não
é ainda pior porque a decolagem da construção civil alavancou a demanda por produtos como portas”,
complementa. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Madeira do Paraná, nos últimos quatro anos,
60% dos postos de trabalho do setor desapareceram e estima-se que 37% das empresas do estado estejam em processo de encerramento
das atividades.
Foto: Arquivo Madeira Total
Fonte: Paraná Online - Magaléa Mazziotti
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