Simadi
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. - 08/09/2010

Um novo verniz para a madeira

Investir em pesquisa e atrair novas atividades são as necessidades do Sul do Paraná, região madeireira e com uma das maiores taxas de pobreza do estado

Uma região com 577 empresas ligadas à indústria da madeira, que absorvem direta ou indiretamente 70% dos empregos e respondem por 87% do Valor Adicionado Fiscal (VAF) de 21 municípios. Apesar de ser responsável por 25% da produção nacional de portas e esquadrias, com 1,3 milhão de unidades por ano, o Sul do Paraná tem renda per capita inferior à média estadual e taxa de pobreza acima da média do estado. Com esse perfil, os desafios para a região são claros: agregar valor à produção, diversificar a economia e pagar melhores salários. Sem esquecer o meio ambiente, já que o Sul tem uma das maiores áreas de cobertura florestal do Paraná e a maior reserva de araucárias.

Hoje, a maior demanda da região é dar um novo verniz à indústria madeireira. Na avaliação de lideranças regionais, é preciso investir em pesquisa e atrair novas atividades. O objetivo é aumentar a capacidade das áreas de reflorestamento sem que a economia da região continue tão dependente da produção do compensado. “Precisamos de outras indústrias na área, para agregar valor ao nosso produto com a produção de fechaduras, dobradiças e assoalhos”, diz Maria Salete Rodrigues de Mello, presidente do Conselho Nacional da Mulher Empresária da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap).

O prefeito de Irati, Sergio Luiz Stoklos, presidente da Associação dos Municípios do Centro-Sul do Paraná (Amcespar), defende formação técnica para os produtores. “São necessárias linhas de crédito e formação técnica para o setor. Uma empresa se instala onde tem formação técnica”, afirma. “Existe o potencial de explorarmos ainda mais o setor madeireiro, de acordo com nossa produção, agregando mais valor do que o compensado hoje.”

Longo prazo

Gaúcho de Lajeado, Alcides Rochembach chegou ao Paraná em 1956, quando falar em proteção ambiental seria considerado algo de outro planeta. Na época, abriu uma serraria com 40 funcionários em Bituruna, onde processava cerca de 3,5 mil árvores por mês. Ao longo de meio século, criou cinco filhos – quatro deles continuam nos emprendimentos da família. Três ajudam a administrar 1,2 mil hectares de pinus, árvore cujo crescimento demora 20 anos, e uma fábrica de compensado em União da Vitória. Outro cuida de uma fazenda no Norte do Mato Grosso do Sul.

Rochembach emprega 150 funcionários e produz entre 600 e 700 metros cúbicos de compensado (chapa de madeira usada na construção civil) por mês. Segundo ele, as árvores cortadas hoje foram plantadas na década de 70, quando o governo estadual incentivou o plantio de reflorestamentos com desoneração tributária. Foi um dos últimos auxílios dados ao setor, estigmatizado nos últimos anos. “Tive que tirar o nome da madeireira de um avião, porque era hostilizado por isso”, lembra Rochembach, que chegou a ser indiciado em uma operação da Polícia Federal destinada ao combate do corte ilegal na região amazônica. Uma das saídas para aumentar a produtividade das áreas de reflorestamento seria investir em pesquisas genéticas, para obter mais colheitas e um volume maior de madeira. “Preci­samos que o governo ajude a desenvolver uma planta mais adaptada à região”, afirma um dos filhos de Alcides, Marcos Rochembach. Jairo Clivatti reforça a necessidade. “Com recursos, aumentaríamos os investimentos em pesquisas na área de engenharia ambiental e da madeira. Isso traria uma forma para as pessoas não saírem da região. Hoje perdemos talentos para Curitiba, Joinville e Blumenau”, comenta.

Meio ambiente

Falar em aumentar as áreas de reflorestamentos – que utilizam árvores exóticas, como o pinus e o eucalipto – e utilizar áreas de mato e não de mata para isso deixa qualquer ambientalista com os cabelos em pé. Mas é o que os produtores da região veem como um dos caminhos para aumentar a produção. Marcos Rochembach explica a ideia: segundo ele, há 30 mil hectares de matas nativas na região de União da Vitória, dos quais 20 mil sem araucária ou mogno – na visão do madeireiro, “sem interesse ambiental”.

A ideia é utilizar essas áreas para aumentar os 33 mil hectares de reflorestamento. “Nós teríamos três vezes mais produção de madeira do que temos hoje”, estima Marcos. O problema, de acordo com ele, é que o governo e os órgãos de fiscalização não aceitam nem debater o tema. “Tem que deixar plantar. Se o produtor não plantar, ele vai precisar de dinheiro e vai acabar indo para a mata nativa”, diz Paulo Henrique Matos de Almeida, prefeito de Paula Freitas e presidente da Asso­ciação dos Municípios do Sul Paranaense (Amsulpar).

Para Jairo Clivatti, com investimentos em pesquisa seria possível minimizar os efeitos. “Na medida em que se desenvolve tecnologicamente a indústria da madeira, melhora o processamento e a tecnologia de mudas, reduzindo as perdas”, afirma.

Essa corrente encontra resistência em quem vê na preservação ambiental uma alternativa viável para substituir a madeira na formação econômica da região. O turismo nesses locais ainda preservados criariam empregos e renda sem derrubar árvores, mas falta estrutura e divulgação. “Temos um grande potencial turístico, reconhecido pela Embratur, com mais de 60 cachoeiras catalogadas. Mas precisamos melhorar a gastronomia e a oferta de hotéis”, acredita a empresária Maria Salete Rodrigues de Mello.

Segundo o Instituto Para­naense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), a taxa de pobreza em todos os municípios da região fica acima da média do estado – em um terço da cidades, a taxa atinge níveis superiores a 40%, mais do que o dobro da média estadual. A renda per capita da região também é inferior à média estadual, com exceção de União da Vitória. Além disso, o Sudeste concentra o maior índice de população rural do estado. Do total de 377 mil pessoas que vivem na região, 46%, ou 175 mil, estão no meio rural.

Fonte Gazeta do Povo

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