Madeira

Fiep debate desenvolvimento da cadeia produtiva de construções em madeira

Reunião técnica e workshop marcaram a abertura da exposição Woodlife Sweden

10/03/2023

Um workshop com a participação de especialistas e empresários suecos e brasileiros abriu nesta segunda-feira (6), no Campus da Indústria, em Curitiba, a exposição Woodlife Sweden. Promovida pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) em parceria com a Embaixada da Suécia e o Swedish Institute, ela mostra 40 projetos realizados no país europeu com a utilização de madeira engenheirada na estrutura e composição das edificações. O evento foi precedido de uma reunião técnica, envolvendo representantes de diversas entidades e empresas ligadas a setores que integram a cadeia produtiva de construções em madeira, com o objetivo de traçar estratégias para expandir e consolidar esse mercado no Brasil.

O workshop mostrou que processos construtivos em madeira surgem como alternativas para que a indústria da construção se torne mais sustentáveis. No Brasil, o uso de madeira engenheirada – que possibilita peças e vigas maiores, podendo ser utilizada até para a construção de prédios altos – ainda está em fase inicial. No país, porém, já vêm conquistando mercado as construções em wood frame, que é um sistema estruturado em peças leves de madeira maciça serrada.

Vice-presidente da Fiep, Paulo Roberto Pupo destacou que a mobilização gerada pelo Woodlife Sweden é um marco para a união de esforços nessa cadeia produtiva, com potencial de ampliar esse mercado e impactar futuramente no consumo per capita de madeira no Brasil. “Eventos como este, que reúnem vários interesses e em que apresentamos soluções construtivas, com representantes de peso dessa cadeia, são fundamentais”, disse Pupo, que é também superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci).

Já o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, afirmou que a busca por novos modelos de construção é essencial para que o setor recupere sua relevância na economia nacional. “Nossa participação no PIB, que hoje é de 3%, já foi o dobro disso. Se a gente quer realmente voltar a ocupar um espaço que já foi nosso, precisamos sair da caixinha, e aí existem duas palavras que são essenciais: sustentabilidade e produtividade. E uma das grandes soluções para isso são as construções com madeira”, disse.

Workshop
A palestra magna do workshop de abertura da Woodlife Sweden foi realizada pelo arquiteto sueco Robert Schmitz, do escritório White Arkitekter. Entre os projetos liderados por Schmitz e que recebeu vários prêmios internacionais está o do Sara Cultural Centre, na cidade de Skellefteå, no norte da Suécia. Além de um centro cultural de 17 mil metros quadrados, o complexo abriga um hotel de 20 andares e 75 metros de altura, um dos edifícios mais altos do mundo em madeira engenheirada.

Schmitz afirmou que 40% das emissões de CO2 no mundo são originárias do setor da construção. Além disso, o segmento também é responsável por 30% dos resíduos gerados na Suécia. Pensando nisso, o escritório passou a buscar processos construtivos alternativos, e a madeira surgiu como principal solução. Isso porque uma construção em madeira, além de emitir menos gases de efeito estufa, ainda sequestra carbono com a produção florestal necessária para obtenção da matéria prima. “Uma edificação como essa sequestra o dobro do carbono que emite, então é um prédio carbono negativo”, disse.

Além do apelo sustentável, o fato de as peças em madeira serem provenientes de um processo industrial aumenta a agilidade das obras. As peças estruturais e os módulos do edifício são pré-fabricados em uma indústria e apenas montados no canteiro de obras, reduzindo os prazos de finalização dos projetos.

Financiamento
Além da experiência sueca, o workshop debateu também as possibilidades de financiamento de construções sustentáveis em madeira no Brasil. O painel teve a participação do ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que é diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do banco Safra. Ele destacou que a estruturação e normatização de uma cadeia produtiva de sistemas construtivos em madeira é importante para ampliar o acesso a financiamentos. “Quanto mais escala e padronização, mais fácil é conseguir financiar”, afirmou.

Além disso, um grande impulso para o financiamento desse segmento deve vir com a regulamentação de um mercado de carbono no Brasil – processo que está em tramitação no Congresso Nacional. “Para ter um diferencial de financiamento verde é importante ter um mercado de carbono, de tal maneira que aquele carbono que você deixou de emitir tenha valor para algum outro agente. Num mercado como esse, a construção em madeira poderá ser uma fornecedora de créditos de carbono”, disse. Outro aspecto importante, em sua opinião, é a necessidade de mostrar garantias da durabilidade dessas edificações.

O painel contou, ainda, com a participação do presidente da Federação das Indústrias de Rondônia (Fiero), Marcelo Thomé da Silva de Almeida, que é também diretor do Instituto Amazônia+21. A organização reúne as Federações das Indústrias dos nove estados que compõem a Amazônia Legal, com o objetivo de estruturar projetos que possam se beneficiar de linhas de financiamento voltadas para sustentabilidade. “Há muito dinheiro disponível para financiar iniciativas sustentáveis, mas faltam projetos”, explicou Thomé. “Apesar de os governos aderirem aos compromissos, quem vai implementar a agenda de mitigação das mudanças climáticas é o setor privado. Sendo uma agenda privada, precisamos ter projetos”, disse.

Entre os projetos em que o instituto trabalha está justamente um que pretende estruturar uma cadeia produtiva de madeira engenheirada com base em florestas plantadas na região amazônica, para construções de habitações de interesse popular. O projeto tem também a participação da CBIC e do Senai.

O workshop teve, ainda, um painel técnico que abordou questões como a produção florestal e os processos de industrialização de madeira engenheirada, além dos avanços no Brasil de uma norma técnica para o wood frame, sistema construtivo estruturado em peças leves de madeira maciça serrada. O painel, mediado pelo assessor parlamentar e empresarial da presidência do CREA-PR, Euclesio Finatti, teve a participação de Erich Schaitza, chefe-geral da Embrapa Florestas; Patrick Reydams, diretor de operações da Urbem, fabricante de madeira engenheirada que tem planta industrial na Região Metropolitana de Curitiba; e Guilherme Stamato, diretor executivo da Stamade.

Próximos passos
Além do workshop, nesta segunda-feira também foi realizada uma reunião técnica com mais de 70 representantes de entidades e empresas ligadas ao setor. Eles debateram os principais desafios para a ampliação do uso de madeira em construções no país. Entre outras questões apontadas como relevantes, aspectos como a normatização, criação de uma cultura de mercado e capacitação de profissionais foram apontadas como relevantes para o desenvolvimento dessa cadeia. A partir das contribuições apresentadas pelos participantes, será elaborado um documento com propostas de ações efetivas a serem colocadas em prática pelo grupo.

Exposição
Após o workshop, foi aberta oficialmente a exposição Woodlife Sweden. A iniciativa apresenta 40 projetos que representam um paradigma iminente na indústria da construção civil, a partir da utilização de madeira engenheirada na estrutura e composição das edificações. A exposição fica em exibição no Campus da Indústria até 24 de março.

Presente no evento, a embaixadora da Suécia, Karin Wallensteen, afirmou ser uma honra saber que seu país serve de inspiração para que o Paraná debata o uso de madeira em construções. “As florestas cobrem 70% da área do país e o uso da madeira está profundamente enraizado na cultura sueca”, disse. “Na Suécia, os arranha-céus de madeira se tornaram realidade. Espero que seja de excelente proveito o conhecimento que será compartilhado com todos aqui”, completou.

A Woodlife Sweden, exposição que já percorreu outros países, mostra projetos de várias escalas, e de toda a Suécia, que fazem uso da madeira engenheirada, um material que surge a partir de processos industriais para que a madeira ganhe resistência, durabilidade e qualidade. Por ser um material de mais fácil manipulação, é mais versátil do que o aço e o concreto. Além disso, as construções em madeira engenheirada também têm 1/5 do peso de uma construção similar em concreto.

Realização e apoio institucional
A Woodlife Sweden foi concebida em 2020 pelo Swedish Institute e pelo Architects Sweden, em colaboração com a Swedish Wood, o Swedish Wood Award e a Federação Sueca das Indústrias Florestais. Na edição de Curitiba, a exposição é promovida pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Embaixada da Suécia em Brasília e Swedish Institute.

O evento conta, ainda, com apoio institucional da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), Sistema Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR), Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Paraná (IAB-PR), Fundação Araucária, Embrapa Florestas, Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), Paraná Metrologia e Senai, por meio do Instituto Senai de Inovação em Engenharia de Estruturas e do Instituto Senai de Tecnologia em Madeira e Mobiliário.