Construção Civil

Ampliar uso de madeira é desafio para indústria da construção brasileira

Evento da Fiep vai debater tecnologia de madeira engenheirada e apresentar avanço da normatização do sistema wood frame

09/03/2023

A indústria da construção civil brasileira está atenta à necessidade de tornar seus processos produtivos cada vez mais sustentáveis, reduzindo os impactos do setor na exploração de recursos naturais não renováveis, na geração de resíduos e nas emissões de gases de efeito estufa. Uma das principais alternativas para isso, que se consolida em vários países e começa a ganhar cada vez mais espaço no Brasil, é o uso de sistemas construtivos em madeira proveniente de florestas plantadas.

Para aprofundar as discussões sobre o tema, com foco principalmente no potencial do Estado para explorar esse mercado, a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) realiza em março, em Curitiba, a exposição Woodlife Sweden. Promovida em parceria com a Embaixada da Suécia e o Swedish Institute, ela mostra 40 projetos realizados no país europeu com a utilização de madeira engenheirada na estrutura e composição das edificações.

A exposição será aberta no dia 6 de março, com um workshop que reunirá especialistas e empresários brasileiros e suecos. Além de apresentar as tendências sobre o uso de madeira engenheirada, o evento também tratará de outros sistemas construtivos em madeira, como o wood frame, que já é mais difundido no Brasil e está prestes a ter oficializada uma norma técnica.

Diversificação
José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), uma das entidades que apoiam o evento, afirma que o setor tem consciência de que é necessário diversificar sua forma de atuação. “Nós entendemos que a construção civil é o principal item da pauta de sustentabilidade, porque somos grandes usuários de recursos naturais e emitimos muito ao transportar os produtos”, diz. “É muito importante que a gente diversifique os sistemas construtivos para que você tenha mais oportunidades e condições de atender a demanda, principalmente com o uso da madeira, que é uma construção sustentável”, acrescenta.

Para Martins, o grande desafio atual é encontrar meios para consolidar o mercado de construções em madeira no Brasil. “Hoje ainda temos uma participação muito pequena em relação a alguns outros países que têm como um grande pilar os sistemas construtivos em madeira”, diz. Em sua opinião, a criação desse mercado passa, inclusive, pela superação de barreiras culturais. “Sou da região Sul, culturalmente me criei em uma casa de madeira e, para mim, não tem problema. Mas, em determinadas regiões do país, é como se fosse um produto de qualidade inferior, o que a gente sabe que não é, pois tem muita tecnologia envolvida”, completa.

Novas tecnologias
Essa tecnologia é garantida por processos industriais e de engenharia utilizados na fabricação de painéis ou elementos estruturais de madeira. Assim, essas peças ganham mais homogeneidade, resistência e durabilidade, podendo ser utilizadas com segurança em construções. No caso do processo de madeira engenheirada, que possibilita peças e vigas maiores, o material pode ser utilizado até para a construção de prédios altos – um mercado ainda em desenvolvimento no país.

No Brasil, porém, já vêm conquistando mercado as construções em wood frame, que é um sistema estruturado em peças leves de madeira maciça serrada. Uma tecnologia que foi trazida ao país por meio de uma mobilização liderada pelo Sistema Fiep. Um trabalho que começou em 2009, com a realização de uma missão técnica-empresarial à Alemanha e a posterior instalação da Comissão Casa Inteligente para estruturar a implantação dessa tecnologia construtiva no país.

“Wood frame é a execução de obra por meio de um complexo industrial”, explica o engenheiro Euclesio Finatti, assessor parlamentar e empresarial da presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR). “São feitas casas e prédios de até quatro pavimentos com uma estrutura de madeira que é toda desenvolvida em uma fábrica, montando no canteiro de obra. Fazendo uma coisa industrializada, a gente consegue diminuir custos, otimizar e desenvolver”, acrescenta Finatti, que coordenou a comissão desde seu início.

Desse movimento liderado pelo Sistema Fiep, uma das empresas que surgiu foi a Tecverde, indústria paranaense que hoje é líder em construções em wood frame no Brasil. Desde sua criação, em 2010, a empresa já entregou 7 mil unidades feitas com esse sistema construtivo.

Normatização
O mercado do wood frame deve ganhar ainda mais impulso a partir deste ano. Nas próximas semanas, deve ser oficializada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) uma norma técnica específica para esse sistema construtivo, dando ainda mais segurança a empresas e consumidores interessados na tecnologia. “A norma está pronta e entrou na terceira audiência pública. As dúvidas que ainda existiam foram sanadas e a norma deve ser sancionada nos próximos dias”, diz Finatti.

O superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Paulo Roberto Pupo, que é também vice-presidente da Fiep e participou ativamente de todo o processo de construção da norma, explica como isso pode impactar o mercado da construção civil no país. “Estamos prestes a oficializar no Brasil um novo sistema construtivo, que é o wood frame, para casas em madeira, e com essa tecnologia de peças de madeira engenheirada para edifícios mais altos, seja construções de maior porte ou mesmo construções populares, estamos diante de uma mudança de paradigma e de conceito de consumo e construção civil no Brasil”, diz.

Para Pupo, esse movimento vai transformar também o conceito de uso de madeira no país, inclusive aumentando o consumo per capita graças a esses novos sistemas construtivos. Em sua opinião, o Brasil tem plenas condições de entrar e se consolidar nesse mercado. “E o Paraná é a convergência de todos esses esforços. Temos várias empresas paranaenses já se preparando para essa nova demanda e o estado será o jardim do investimento para construção sustentável e de tecnologia de madeira engenheirada no Brasil”, afirma.

José Carlos Martins, da CBIC, considera que a realização do Woodlife Sweden, com participação de representantes de todos os elos da cadeia produtiva e do setor público, será um marco importante nesse processo. “De alguma forma precisamos começar a pensar qual é a estratégia para expandir esse mercado de construções de madeira. O que a gente puder, temos que fazer para difundir, divulgar e ampliar esse mercado com um produto que traz todas as características de sustentabilidade”, conclui.

Sobre o Woodlife Sweden
O Campus da Indústria do Sistema Fiep, em Curitiba, receberá, entre os dias 6 e 24 de março, a exposição Woodlife Sweden. A iniciativa apresenta 40 projetos que representam um paradigma iminente na indústria da construção civil, a partir da utilização de madeira engenheirada na estrutura e composição das edificações. A exposição será inaugurada com a realização de um workshop, em que o tema será abordado por especialistas e empresários suecos e brasileiros.

A Woodlife Sweden, exposição que já percorreu outros países, mostra projetos de várias escalas, e de toda a Suécia, que fazem uso da madeira engenheirada. Neles, a madeira encontra o seu lugar em habitações, edifícios comerciais e espaços públicos: um material universalmente relevante, que ajuda a desenvolver uma economia circular verde.