Os donos da vez - mercado de moda masculina supera o de feminina em crescimento
Segundo pesquisa realizada pela consultoria de mercado Euromonitor International, as vendas do segmento de moda masculina cresceram 4,5% em 2014, contra 3,7% de moda feminina, e até 2019 devem chegar a US$ 40 bilhões. A alta nas vendas para os próximos anos será alcançada por camisetas, jeans e casacos, de acordo com a consultoria.
O foco na aparência pessoal tem sido o carro-chefe nessa mudança de cenário. Antes eles não se preocupavam muito em combinar peças, em se vestir bem, mas hoje a tendência está diferente, eles estão vaidosos, acompanham a moda e estão de olho na estética. Uma pesquisa do IBGE aponta que os homens gastam por ano R$ 80 milhões com aparência, sendo uma parte disso voltada para o vestuário.
A marca Mario Queiroz, criada há 20 anos pelo designer e seu sócio, José Augusto Fabron, já esteve nos maiores eventos de moda do Brasil, sendo 20 participações na São Paulo Fashion Week, além de ter representado o país no Prêt-à-porter Paris, no Ano do Brasil na França. A grife já trabalhou com lojas multimarcas em várias cidades brasileiras e teve loja própria nos Jardins, em São Paulo (SP), onde funcionava também seu showroom. Hoje, Mario Queiroz faz roupas sob medida e tem um escritório de "inteligência de moda" para dar consultoria a marca de joias Rommael, com quem Mario tem um licenciamento de sua linha chamada "Essencial por Mario Queiroz". "Desde que comecei como designer, tive um foco maior na moda masculina e atuei em diversos segmentos da moda, indo da clássica ao streetwear. Fui o primeiro designer nesse setor na marca Vision. Quando lançamos a Maior Queiroz, o objetivo foi atender o homem que busca peças acessíveis com estilo, exclusividade e design marcante", conta o estilista.
As peças são limitadas cerca de cem por modelo, e a grife não possui um público-alvo dividido por faixa etária, mas sim por atitude, com interesse em peças autorais. Com a ideia de que a moda masculina é feita de diferentes segmentos e indo contra a máxima de que todo homem é igual ou só existe um tipo de "homem comum", Mario Queiroz acredita que eles estão deixando de lado o pensamento de uniformização, perdendo o medo de assumir sua vaidade, porque precisam competir com uma mulher competente e antenada em moda. "O homem brasileiro é mais evoluído do que o mercado de moda masculina no Brasil. Considero meu papel alertar as empresas e os designers e criar situações que incentivem a melhoria desse segmento", comenta o designer.
Nos dias 3 e 4 de agosto, Mario Queiroz apresentará, no Senac Lapa Faustolo, em São Paulo (SP), o evento "Homem Brasileiro 2015". Na ocasião, será lançada a exposição 20 anos de Moda Masculina de Mario Queiroz. Ruptura, que conta a trajetória de sua marca e discute os papéis dos homens de hoje e do futuro, pensando em novas possibilidades. Serão apresentados 20 looks, croquis, fotos de desfile e catálogos, além de editoriais. A exposição ficará em cartaz até o dia 28 de agosto, com entrada gratuita. No dia 4 de agosto, aconteceu o Fórum de Discussão do Masculino, que abordará os diferentes tipos de homem da sociedade, como cidadãos e consumidores, e contará com nomes importantes do cenário da moda atual. Para participar, basta fazer a inscrição no site do www.sp.senac.br
João Pimenta começou desfilando na Casa de Criadores em 2005, com criações femininas e masculinas. No terceiro desfile, observando a necessidade do marcado, focou as coleções só no masculino. O estilista trabalha com o contraponto do masculino com o feminino e do pobre e rico no conceitual da marca. Trabalha com a elite de moda e com lugares incomuns na moda, como o campo, o caipira, favelas e mendigos. "O masculino era muito quadrado, o homem tem vontade de evolução, por isso o olhar para as formas femininas é uma tendência. Com relação ao pobre e rico, as pessoas elitizam a moda e ela não é só para ricos. As pessoas simples têm interesse também. Na minha última coleção, me inspirei no não gênero", explica João Pimenta.
A grife produz peças sob medida, no estilo alfaiate, mas trabalhando com a androginia. "Meu público é bem sério, executivos, noivos etc. Não temos problemas de discriminação diante do nosso conceito. Trabalhamos o dúbio, nadamos dos dois lados. Agora, com a revolta das pessoas com o fast fashion, elas estão querendo algo para o corpo delas e isso faz crescer a procura pelo sob medida", afirma Pimenta. O estilista ainda diz que o homem quer inovação no guarda-roupa, é mais exigente do que a mulher, quer que a roupa dure muito tempo e tem grande poder de compra. "Para atrair quem não é fashion, trabalhos o clássico mudando as matérias-primas, misturando os tradicionais com moletom e couro, fazendo um trabalho de alfaiataria contemporâneo. Aqui, o cliente escolhe como quer a peça, com diferenciais, tanto de tecidos como na estética", explica.
Segundo Pimenta, a moda feminina está muito saturada de informações e criações. “Se existe um lugar onde a moda pode evoluir é no masculino. No feminino, nada mais é novidade. Infelizmente, o mercado brasileiro ainda não enxerga o potencial da moda masculina. Você vê poucas revistas para homens, poucos estilistas. Existe um desinteresse muito grande do mercado nacional pelo masculino.”
Fundada em 2009 pelo carioca Lissandro Silva, a Tricky Hips trabalha com coleções criadas a partir de temas, usando como referência a parte cool da cultura jovem. No ano passado, o estilista Felipe Sosa, que já passou por marcas como a Track&Field, trouxe sua expertise para grife. A Tricky Hips trabalha com a faixa etária de 18 a 30 anos e a produção mensal varia de acordo com a época do ano, sendo em média de 1.500 peças por mês. “Por falta de marcas masculinas nacionais que entregassem o trio produto + design + branding por um preço acessível, surgiu à ideia de criar a grife. Notamos que tínhamos dificuldade de encontrar produtos de marcas com as quais nos identificássemos, com informação de moda, bem acabados, com design diferenciado e que tivessem um preço acessível”, conta Lissandro Silva, diretor criativo da Tricky Hips.
Lissandro acredita que o comportamento de consumo masculino vem mudando ao longo dos últimos anos, devido à quantidade cada vez maior de homens preocupados com a imagem, que entendem que a roupa diz muito a respeito deles. “Além da moda, essa nova percepção fica bem clara no crescimento do mercado cosmético voltados exclusivamente para esse público.”
Um bom exemplo para o segmento, em sua primeira participação no evento Casa de Criadores, na edição de verão 2009, a Der Metropol foi apontada pela crítica como a grande revelação da temporada, passando a integrar instantaneamente o line-up oficial do evento. Em janeiro de 2012, foi convidada para desfilar na Semana de Moda de Barcelona, sendo eleita um dos destaques da temporada pela crítica internacional. Atualmente, conta com o apoio o governo brasileiro, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), por meio do BtoBe, grupo formado por dez estilistas brasileiros considerados promissores, que já participou de eventos em Paris e Londres.
Mario Francisco, designer e CEO da Der Metropol, diz que a moda masculina sempre foi à área com a qual teve mais afinidade, desde o início. “Quando resolvi cursar a faculdade de moda, minha intenção já era trabalhar com o masculino. Atualmente, estou focado na produção apenas de peças sob medida, com o mix certeiro entre alfaiataria, streetwear e sporstwear, que é a principal característica da marca. A importância do mercado da moda masculina é fundamental, como todos os mercados, inclusive culturalmente, já que barreiras culturais que existem e estão estabelecidas há tempos são quebradas pelo próprio homem brasileiro, com uma nova maneira de se vestir ou usar uma peça de uma maneira, ao usar uma nova modelagem que proporciona um volume e caimento diferentes do já estabelecido etc. Vejo isso bastante no streetwear e na moda que vem das ruas, percebo que é onde os homens mais se arriscam”, comenta Mario Francisco.
A Civil Jeans, do Grupo Claudia Rabelo, confecção de roupas de Belo Horizonte (MG) que atua no mercado de jeanswear há 25 anos, atende uma faixa etária ampla, de 20 a 50 anos, com produção mensal de 10 mil peças masculinas, além da parte da produção que é terceirizada no Sul do país e das importações. “Intensificamos nosso investimento na moda masculina há dois anos. Por meio de uma consultoria, observamos que havia uma carência de boas marcas do segmento no mercado que conseguissem atender o homem brasileiro, que está cada vez mais exigente na escolha de suas roupas. Unimos essa oportunidade com nossa capacidade de transformar a Civil em uma marca que conseguisse atender essa demanda, principalmente no mercado jeanswear”, explica Pedro Rabelo, diretor da Civil Jeans.
A aposta da marca para atingir o mercado masculino é investir em qualidade de produto e em detalhes nas peças. “Vimos que o homem é muito preocupado com o conforto. Um exemplo de como traduzimos essa preocupação foi o aumento da linha do ‘jeans moletom’, que tem o aspecto do jeans e conforto do moletom. Outra preocupação é com os detalhes, uma vez que não existem tantas novidades na moda masculina como na feminina. Acredito que a masculina estava muito atrás da feminina em questão de inovação. Como o homem hoje se importa mais com questões estéticas, a moda masculina está tentando ‘correr atrás do prejuízo’ para acompanhar a feminina”, reflete Rabelo.
Eles finalmente estão descobrindo que se vestir bem e gostar de moda não têm a ver com sexualidade e sim com estilo, e, para acompanhar esse movimento, as marcas estão se adaptando e investindo em conforto e qualidade, além de informações de moda. Enfim, chegou à vez deles!
A tecnologia assusta?
Na busca por seu lugar ao sol, uma grande parte – gigantesca, na verdade – das indústrias de moda quer reduzir custos de produção sacrificando justamente a parte mais importante, que dará vida às criações: a própria produção. Isso vale para qualquer porte de empresa ou localidade, aqui ou no exterior, espremendo o valor pago por peça pronta, deixando em décimo plano o custo da mão de obra.
Seria a baixa remuneração um dos fatores para a falta de interesse em trabalhar na área de costura? Claro que há exceções, mas que a falta de profissionais no setor é grande todos sabemos, e a coisa se complica mais quando se fala em trabalhar em maquinários mais tecnológicos e com operação automatizada.
A questão é complexa e não pode ser vista por apenas um lado do prisma, pois existem vários outros. Rubens Nunes, consultor de gestão industrial da Megatech Consultoria, diz que, observando dezenas de confecções com as quais trabalha Brasil afora, percebe que os empresários, quando adquirem novos maquinários, o fazem com o objetivo de agilizar processos para ganhar produtividade, porém existe outro motivo, que é a real intenção na maioria das vezes, de deixar de depender da mão de obra de costura e ter operadores de máquina. “Esse desejo oculto fica cada vez mais claro quando se toma a decisão de fazer novas aquisições. Isso se dá pela constante falta de comprometimento dos colaboradores quanto aos resultados da empresa, e essa relação precisa ser mais bem analisada”, pondera Nunes.
Em sua percepção, o seguimento de jeanswear é um dos mais sensíveis à falta de qualificação dos colaboradores por ser muito corrido, o qual confecções e facções procuram ter máquinas mais rápidas e modernas, mas nem sempre conseguem tirar delas o melhor proveito. “Isso ocorre, no meu entender, pelo problema decorrente da falta de um treinamento mais aprimorado da mão de obra. Existem muitos colaboradores que não sabem operar nem um quarto do potencial da máquina. Muitos foram treinados por seus antecessores, ou seja, muito do treinamento passado pelo fabricante ou por seus representantes se perdeu”, conclui.
Quem tem autoridade para falar sobre o assunto é o empresário José Eduardo Nahas Filho, diretor do Grupo Zune Jeans. Localizado no bairro do Brás, em São Paulo (SP), o grupo detém as marcas Zune Jeans, Rodrigo Faro by Zune, Rock & Soda, Über Jeans e Disparate, e vende para todo o país.
Ele conta que, internamente, a confecção faz apenas o corte das peças, mas a costura e o acabamento são terceirizados, sendo uma parte feita no Brasil e outra na China. No entanto, quando compara a qualidade da costura e da mão de obra que é feito aqui e no que é feito lá fora, vê uma diferença muito grande a favor dos chineses. “Acho que isso é fruto de algumas coisas, e uma delas é o sucateamento das oficinas de costura nacionais. Momentaneamente, como o mercado brasileiro está mais recessivo, a oferta de mão de obra, mesmo a de melhor qualidade, aumentou. Então, agora não estamos tendo tanto problema como tivemos no passado recente, mas isso é uma questão de tempo: é só o mercado reaquecer um pouquinho que voltaremos a enfrentar grandes dificuldades de encontrar bons prestadores de serviços na área de costura”, afirma.
Para José Eduardo, além da lei de mercado, no qual só fica quem tem competência para oferecer mão de obra mais qualificada, há o fator da dificuldade de investimento por parte das oficinas de costura, principalmente devido aos baixos valores pagos pelo trabalho. “Acho que, na cadeia produtiva da confecção, o prestador de serviços na oficina de costura é a parte mais achatada e, muitas vezes, ele tem dificuldade até de fechar a conta nas operações do dia a dia, não conseguindo fazer investimentos em renovação de equipamentos, em máquinas. Acho que esse é um componente importante”, salienta.
O consultor Rubens Nunes vê isso de perto. Para ele, os empresários estão procurando modernizar o máximo possível seu parque industrial frente à competitividade de mercado, mas esbarram também nos altos custos de impostos e taxas governamentais. “Acredito que poderíamos estar mais adiantados se não fossem pelo custo Brasil, que torna muito caro esse investimento. Mesmo assim, temos empresários ousados que buscam, no mínimo, a substituição constante por máquinas mais modernas”, diz.
É o que vem fazendo Paulo Vieira, diretor-presidente do Grupo PW Export, responsável pelas marcas Missbella, Missbella Princess, Vide Bula e Vide Bula Jr. Ele está montando uma nova unidade industrial na cidade Baixo Guandu, no Espírito Santo, a 49 km de Colatina, onde fica a sede da empresa, e a prioridade é o investimento em automação e maquinários tecnologicamente mais avançados, além do programa de lean manufacturing e da forte capacitação interna em parceria com o SENAI e o Instituto Federal do Espírito Santo. No entanto, sente fortemente a falta de profissionais de confecção capacitados e disponíveis no mercado para operar de modo eficiente os equipamentos mais tecnológicos da empresa.
“O parque industrial de confecções, salvo exceções, carece de fortes investimentos tecnológicos para suprir a defasagem de muitos anos causada pela desindustrialização do setor de vestuário no Brasil. Os investimentos são absolutamente necessários para melhorar a produtividade, mas fundamental é termos profissionais disponíveis e qualificados por meio de uma educação profissional adequada, hoje escassa no mercado”, ressalta Vieira.
Outras empresas de grande porte também vêm sentindo o mesmo problema, como a Dudalina, que encontra dificuldades em achar mão de obra especializada tanto para a área de costura quanto para equipamentos automatizados. A solução tem sido fazer treinamentos internos em suas plantas fabris conduzidos por instrutores que abordam, além da operação dos equipamentos, o padrão de qualidade, a produtividade e a segurança.
Outras empresas de grande porte também vêm sentido o mesmo problema, como a Dudalina, que encontra dificuldades em achar mão de obra especializada tanto para a área de costura quanto para equipamentos automatizados. A solução tem sido fazer treinamentos internos em suas plantas fabris conduzidos por instrutores que abordam, além da operação dos equipamentos, o padrão de qualidade, a produtividade e a segurança.
Gerson Schuhardt, diretor de operações da Dudalina, conta que, para enfrentar essa questão, a empresa contratou um especialista internacional chamado Antonio Baliarda, que já atuou em mais de 50 países e desenvolveu a padronização dos métodos no sistema produtivo. “Por termos um sistema de treinamento baseado em métodos descritos e filmados, percebemos que as pessoas possuem um aprendizado mais efetivo, tendo maior aderência por partes dos colaboradores”, comenta Gerson.
A Dedeka, de Caxias do Sul (RS), tem feito o mesmo: investido em treinamentos internos para suprir a carência de mão de obra em geral, principalmente quando se trata de equipamentos tecnológicos. O resultado tem sido bastante positivo, de acordo com o diretor da empresa de moda infantil, Sérgio Moacir Rosa. “Se a pessoa tem dificuldade, mas tem interesse em aprender e bom comportamento, procuramos ser pacientes e persistir para a evolução do aprendizado”, afirma Sérgio.
ENSINO E FAIXA ETÁRIA: AGENTES INFLUENCIADORES
Dois pontos em comum entre as confecções entrevistadas chamaram atenção: todas disseram que falta uma ênfase maior em maquinários mais tecnológicos nos cursos profissionalizantes, ou que às vezes não são bem divulgados, além de o fator idade influenciar nesse aprendizado. “Sentimos que os gargalos para melhorar a competitividade da empresa também passam por problemas como carga fiscal, taxa de juros, retração do mercado, insegurança jurídica, relações de trabalho burocratizadas e infraestrutura. Mas uma educação de qualidade, com melhor escolaridade, influencia positivamente a produtividade no trabalho”, avalia o empresário Paulo Vieira.
Gerson Schuhardt, da Dudalina, diz que também tem percebido essa lacuna no mercado, a falta de estruturas de ensino propícias para treinar ou capacitar iniciantes de costura, e essa responsabilidade acaba ficando com as empresas, como exemplifica Sérgio Rosa, da Dedeka. “Percebo uma contínua evasão dos profissionais do setor em função de a maioria procurar por outras áreas, como administração, informática etc., ou seja, por mais inovação tecnológica que a indústria vestuário tinha tido – como máquinas de costura eletrônicas, máquinas de corte automáticas, estamparia digital, entre outras. Na concepção das pessoas mais jovens, especialmente, a atividade continua sendo considerada simples. A função de costureira, por exemplo, é menosprezada pelos mais novos. Assim, acredito que, na maior parte das empresas que operam essas máquinas são mais velhas e acabam tendo mais dificuldades com as novidades. Por outro lado, procuramos reforçar para essas pessoas que, apesar de as máquinas terem evoluído muito, ainda assim é necessário alguém para operá-las diferentemente do que ocorre em outros ramos, onde basta apertar um botão e a peça sai pronta”, destaca Sérgio.
Quem relata situação semelhante é Cairo Benevides, diretor da Liebe, grife de lingerie sediado em Fortaleza (CE). Ele conta que, com a dificuldade de encontrar profissionais, criou uma “escolinha” dentro da fábrica, onde as supervisoras, que já foram costureiras no passado, conhecem todo o processo e recebem treinamentos no SENAI, repassam seus conhecimentos aos novatos e acompanham sua evolução. Também contam com consultorias contratadas para dar treinamentos internos na empresa.
“Se você procurar um profissional pronto no mercado, é muito difícil, não aparece”. No corte, por exemplo, você precisa de profissionais com conhecimento em corte de tecidos, de renda, encaixe... A empresa que não investir hoje em treinamento e desenvolvimento de seus funcionários terá muita dificuldade. Infelizmente, o Brasil não é um pais que investe tanto em cursos, em educação, então a empresa tem que ter esse papel também, diz Cairo.
Segundo ele, a questão da idade também influencia no aprendizado para trabalhar com máquinas mais sofisticadas. Enquanto uma costureira com um pouco mais de idade fica mais receosa para costurar numa máquina eletrônica, uma mais jovem já toma isso como um desafio. O segredo é manter os dois perfis misturados. “Na minha fábrica, as costureiras com um pouco mais de idade às vezes têm dificuldade e, se elas não fazem esse trabalho, podem até ficar fora do mercado, pois estão vindo mais tecnologias, máquinas eletrônicas, e elas têm que ter esse interesse. Temos que observar que algumas costureiras se dão melhor com um tipo de máquina do que com outro, mas a resistência você só quebra com a experiência, aí elas acabam vencendo essa barreira”.
Para Marcelo Matheus, gerente de produção da marca esportiva Natural Sports, de São Paulo, capital, ocorro o mesmo. Com uma produção anual de 720 mil peças, ele diz que encontra dificuldades na célula de produção interna, que conta com seis profissionais, e também na externa, onde 25 facções costuram 9-% de sua demanda. “As costureiras internas que temos hoje são aquelas mais antigas que resolveram voltar ao trabalho. Por isso a dificuldade com o maquinário mais avançado. No entanto, temos todo o suporte de nosso representante de máquinas. Com o treinamento deles, as dificuldades estão diminuindo dia a dia.” Na Dudalina, esse suporte por parte das fabricantes e fornecedores de máquinas e equipamentos é fundamental. Gerson conta que essa parceria tem se mantido ativa, na qual, além do suporte, recebem também o treinamento operacional.
Na área de educação profissionalizante no setor de confecção, especialmente de maquinário, o SENAI é uma referência nacional. Com o questionamento por parte de confeccionistas, fabricantes e distribuidores de máquinas sobre a falta de mão de obra na área que atenda a demanda por capacitação tecnológica, Luísa Meirelles, coordenadora de tecnologia em Produção de Vestuário do SENAI/Cetiqt, no Rio de Janeiro (RJ), unidade totalmente voltada à cadeia têxtil e confeccionista, diz que, no momento, estão com um grande investimento em modernização das plantas de confecção, tecelagem e inovação, buscando o que há de mais moderno no mercado para formar seus alunos.
Ela conta que procuram incluir nos currículos dos cursos a modernização tecnológica exigida pelo mercado de trabalho em todas as pontas, como a modelagem, por exemplo. “O SENAI/Cetiqt está atento a todas as mudanças tecnológicas, tanto que adota os programas de modelagem Lectra, Audaces, Gerber e Moda 01 na grade curricular do curso de Tecnologia em Produção de Vestuários. Outros CAD’s são empregados para a representação técnica do vestuário, seja nos cursos de graduação, seja nos cursos técnicos. Além disso, ofertamos cursos de extensão que possibilitam o aprendizado de modelagem de vestuário nesses programas”, explica Luísa, que constata o interesse dos mais jovens por formação em CAD/CAM, e das pessoas mais maduras por cursos de costura. “Percebo certa resistência por parte dos alunos mais velhos em maquinários mais tecnológicos, pois têm dificuldade com a informática.”
A direção do SENAI Francisco Matarazzo, localizado no bairro do Brás, em São Paulo (SP), e especializado em formação técnica na área têxtil e do vestuário, também foi procura para falar sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição não respondeu a entrevista.
O MAQUINÁRIO VISTO COMO INVESTIMENTO
Para que o Brasil avance na qualidade da prestação de mão de obra nas confecções e ganhe mercado, além de investir na formação e qualificação dos profissionais, antigos e novos, é preciso também pensar na escolha do maquinário como investimento, pois ele ajudará sobremaneira no ganho produtivo e na excelência de produto. Já parou para pensar na economia gerada ao ter um maquinário eficiente, que não precise parar tantas vezes para consertos ou ajustes, aumentando a produtividade e o interesse do operador em trabalhar nele? Fora a economia na reposição de peças, em visitas técnicas de mecânicos e mesmo no consumo de energia elétrica.
No entanto, uma parte dos empresários ainda não pensa dessa forma e prefere investir seu dinheiro na compra de um maquinário com preço e qualidade reduzidos, só para atender a demanda instantânea. É completamente compreensível a falta de verba para grandes investimentos atualmente, devida às condições internas de economia e mercado, mas também é preciso pensar em médio e longo prazo. Vale a pena sacrificar a qualidade de seus produtos e o rendimento da produção, bem como causar o desgaste dos funcionários e de um maquinário que precisará ser reposto em pouco tempo, por não investir um pouco mais num equipamento de ponta?
Para José Eduardo, da Zune, não, vide o exemplo da calça jeans fabricada aqui e na China. “Acho que estamos no meio dessa transição, é uma questão de tempo. Acredito que muito em breve começaremos a viver uma realidade totalmente diferente em termos de qualidade de acabamento e de mão de obra aqui”, ressalta. Em sua opinião, está começando a haver a conscientização de que vender um produto mais acessível não quer dizer que ele tenha que ser de baixa qualidade, pelo contrário.
“O Brasil precisa entender que o investimento em equipamento de qualidade não é custo. O equipamento de qualidade reduz o custo do produto final, pois normalmente vêm com um pacote de vantagens agregado, como maios produtividade, confiabilidade, durabilidade e qualidade de produção, revertendo todo o investimento em lucro. O treinamento operacional também influencia positivamente no rendimento dos equipamentos. Antes de reclamamos da qualidade da mão de obra nas fábricas, devemos olhar para o que oferecemos aos nossos colaboradores em termos de equipamentos e de formação para a operação deles”, destaca o engenheiro Edson José de Souza, diretor comercial da Silmaq.
Para ele, questionar a “falta de mão de obra especializada” e de certa forma, querer justificar um investimento malfeito. “Se o empresário compra um equipamento e seus operadores só aproveitam 50% de sua capacidade produtiva, esse equipamento está custando praticamente o dobro do preço. O fator decisório não pode se basear somente em preço. Um equipamento de primeira linha pode exigir até 30% a mais de investimento, mas, se ele tem produção 30% maior que o outro, já custa o mesmo preço; se exige menos manutenção, custa mais barato. O que percebemos é uma avalanche de oferta pela oferta, e não de benefícios para tornar a indústria mais competitiva”, aponta Edson. De acordo com ele, a Silmaq mantém essa constante preocupação em só trabalhar com produtos de alta qualidade e tecnologia, além de oferecer um serviço diferenciado que possibilite ao cliente ter total aproveitamento do dinheiro investido no equipamento adquirido. “Quando vendemos nossos equipamentos, a formação dos operadores e a formação da manutenção básica estão inclusas no custo do maquinário. A Silmaq investe muito na formação de seus técnicos para que eles possam formar bem a mão de obra que vai operar as máquinas instaladas nos clientes. Temos um departamento de qualidade que cuida da verificação dos resultados do trabalho de nossos técnicos e da satisfação do cliente, e tudo isso agrega valor aos nossos produtos”, destaca.
Augusto Pereira, consultor de vendas da Andrade Máquinas, ressalta que o problema da falta de mão de obra especializada e qualificada não é exclusivo do setor têxtil e confeccionista, mas generalizado no Brasil. Segundo ele, pesquisas recentes mostram que essa taxa em nosso país é quase o dobro da média mundial. Os fatore são diversos, mas principalmente a formação básica de baixa qualidade e a falta de cursos técnicos específicos. “Em todo o pais, temos visto que a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada tem sido preponderante para que muitas empresas deixem de investir em novas tecnologias e busquem produtos manufaturados em mercados que as dominam”, adverte Augusto.
O consultor confirma que o desenvolvimento de novas tecnologias para a indústria de confecção nos últimos anos trouxe uma série de benefícios às empresas do setor, como a padronização da qualidade, o aumento da produtividade, a diminuição do consumo de energia, entre outros. Mas, se por um lado essas inovações têm dado melhores condições para quem lida com esses equipamentos, por outro tem exigido uma qualificação mínima necessária para que todos os recursos sejam explorados. “Com o apoio dos principais fabricantes e desenvolvedores de tecnologia do setor, a Andrade Máquinas, ao longo dos anos, tem promovido diversos treinamentos internos e itinerantes para revendedores e confecções, que propiciam maior entendimento dos recursos tecnológicos dos equipamentos. Dessa forma, nossos clientes podem aproveitar ao máximo a capacidade de cada equipamento e mantê-los em perfeitas condições de uso e segurança e cada vez mais competitivos.”
Particularmente no que diz respeito ao setor de corte das confecções, uma área altamente automatizada, José Roberto Neubauer, diretor comercial da Optikad do Brasil, relata sua experiência com a visita frequente aos clientes interessados em seus produtos. Ele constata a real escassez de profissionais qualificados no mercado por todos os motivos já listados anteriormente, inclusive o problema recorrente de falta de compromisso e assiduidade dos profissionais, que compromete o planejamento produtivo das empresas, mas também destaca que a maioria das confecções no Brasil está muito atrasada quando se fala em automação industrial. “Hoje, temos um grande número de encarregados de trabalhos excessivamente mecânicos, que, como já não se encontram disponíveis no mercado, são substituídos por técnico especializado, como ocorre no corte de tecidos. Em nosso caso, esse técnico é treinado pela própria Optikad em regime de produção. Nossa automação, além dessa profunda substituição de mão de obra, reduz o tempo operacional e proporciona total precisão do corte, o que aumenta a produtividade dos setores subsequentes de fabricação”, salienta.
Quem também se mostra favorável à automação é Silvio Nazario Sobrinho, sócio proprietário da Mega Máquinas, de Içara (SC). Ele destaca que um dos focos da empresa para solucionar o problema da falta de mão de obra qualificada em maquinários mais tecnológicos em determinadas funções na linha de produção foi encontrar máquinas especiais desenvolvidas no exterior. “Hoje, existem máquinas de alta tecnologia que podem, em diversos casos, suprir a falta de mão de obra especializada e, assim, apenas um operador de máquina pode manuseá-la obtendo o resultado final desejado, ou até melhor, pois a máquina mantém sempre o padrão de qualidade em uma linha de produção.”
Para Franco Coin, gerente de vendas das marcas Vibemac, Maica, Framis, a mão de obra qualificada e a automação de maquinário no Brasil são pontos convergentes no que diz respeito à sobrevivência da empresa.
Ele lembra que, há 30 anos, os empresários brasileiros do setor de confecção só compravam maquinário de qualidade. Ao mesmo tempo, nesse mesmo período, o pais esteve fechado ao comércio internacional, o que criou certo comodismo interno, pois as empresas daqui não tinham que competir com as de fora. Mas não há mais espaço para essa mentalidade há tempos.
Um exemplo é uma passagem que Franco teve por Bangladesh. O que pôde ver foi que, num país onde os salários e custos com funcionários são os mais baixos do mundo, existe muito mais automação do que no Brasil. “É um absurdo!”, indigna-se. Mas ele sente que os empresários estão começando a mudar o pensamento, e a atual situação, por pior que seja no mercado confeccionista nacional, está fazendo com que repense sua produção, para onde vai o mercado e como estruturar para o futuro. A alta do dólar também está tendo esse efeito de retomada da produção interna, movimento que vem acontecendo fortemente também na Europa, com o intuito de ter uma resposta mais rápida do produto no ponto de venda em vez de fazer um pedido na Ásia com seis a oito meses de antecedência. A China, mais expoente país do cenário mundial, está deixando de ser fornecedor para ser consumidor, comprando de Brangladesh.
Segundo Franco, o problema é que a mão de obra no Brasil está ficando cara e escassa, então empresas têm que se estruturar para ser mais competitivas. “O mercado do futuro não permitirá mais que uma empresa não tenha uma estrutura que possa melhorar a produtividade. Para isso, não basta ter só tecnologia, tem que ser tecnologia boa. Tem confeccionista que não compra máquinas de maior qualidade porque diz ser difícil trazer para o Brasil. Mas, se ele pensar em montar uma empresa para 20 anos pelo menos, não pode pensar desse jeito. Comprando um maquinário mais barato, ele pode ter três meses de felicidade e o resto do tempo mais complicado pela frente. Hoje, ele pode ter uma fábrica com 60 pessoas fazendo 300 peças por dia, mas já com prazo de validade, ou ter uma fábrica com 60 pessoas fazendo 2 mil peças por dia, essa, sim, saudável e com futuro, enquanto a primeira não sustenta o custo que tem. Por absurdo que seja, quando você tem um equipamento de automação, ele já eleva a qualidade dos produtos. Se os números não batem, a fábrica fecha. É a lei da sobrevivência. ”
GAP fecha 175 lojas
A Gap, que tem sofrido para se recuperar das quedas nas vendas, anunciou em junho que fechará 175 se suas 675 lojas nos Estados Unidos nos próximos anos, sendo que 140 serão fechadas no ano fiscal de 2015. A grife também declarou o corte de aproximadamente 250 empregos este ano na sede da empresa, em São Francisco, de um total de cerca de 141 mil funcionários no mundo. O CEO da Gap, Art Peck, acredita que com a mudança a empresa fará a marca voltar a crescer.
Segundo Fórum Negócios da Moda
No dia 2 de junho, a sede da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP) foi palco da segunda edição do Fórum Negócios da Moda, promovido pela instituição em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo (Estadão) com apoio da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), da Associação Brasileira de Estilistas (Abest) e do Senac-SP.
O evento foi dividido em três painéis: “Os Desafios da Moda no Cenário Macroeconômico”, “Tendências de Negócios da Moda” e “O Comportamento do Consumidor no mercado Digital”. Para discutir sobre os temas propostos, um time de peso foi escalado, como Alexandre Birman, presidente do Grupo Arezzo (que engloba as marcas Arezzo, Schutz, Anacapri e Alexandre Birman); Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit; José Galló, presidente da Renner; Luis Taniguichi, diretor da Tani Brazil Consultoria Empresarial e representante do Senai-SP; Letícia Abraham, do WGSN; Alexandre Herchcovitch, estilista; Adriana Papavero, diretora da Lectra para a América do Sul; Roberto Davidowicz, presidente da Abest; Ana Isabel de Carvalho Pinto, diretor da Shop2gether; Costanza Pascolato, consultora de moda; e Pedro Guasti, presidente do Conselho de Comércio Eletrônico da FecomercioSP e vice-presidente de Relações Institucionais do Buscapé, entre outros.
No primeiro painel, Alexandre Birman revelou que, hoje, a aposta da empresa está no omni channel, ou seja, utilizar todos os canais de venda - lojas físicas (próprias, franquias, monomarcas e multimarcas), e-commerce (onde mais têm investido) e, agora, no recém-lançado aplicativo de vendas por celular, mantendo permanente o desejo de consumo em seus clientes. Briman destacou que o segmento de bolsas tem crescido muito dentro do grupo, em todos os seus diferentes nichos de mercado, e que estão em fase piloto em outros segmentos de acessórios com a marca Schutz. O empresário ainda deu uma dica: “Olhar para fora é importante, mas olhar para dentro de casa e buscar oportunidades de melhorar é mais importante ainda”.
Fernando Pimentel, da Abit, falou da importância da internacionalização dos produtos brasileiros, e que o governo está tendo agora tirar o atraso buscando novos acordos, com ou sem Mercosul. “O Brasil se isolou do mundo e ficou numa arena política retrógrada”, desabafou. Ressaltou ainda questões sobre a regulamentação da profissão de costureira, a conturbada agenda trabalhista, a falta de mão de obra, o grande volume de importados competindo internamente com o produto nacional e a carga e o sistema tributários, nos quais predomina a “síndrome de Peter Pan”: para não ter uma taxação maior, as empresas não saem do Simples, preferem abrir outro CNPJ e se multiplicam, mas não crescem. E por isso não abre mão da aprovação do Regime Tributário Competitivo da Confecção (RTCC) para destravar a capacidade produtiva de nossas confecções.
José Galló, da Renner, concordou com Pimentel na questão de o Simples limitar as empresas, e disse ainda que 40% das roupas vendidas no pais não têm nota fiscal, resultando em informalidade e queda de qualidade. Galló comentou que, entre 2011 e 2013, o país ia bem, mas agora só quem vai para a frente é quem cria um diferencial competitivo de mercado, seja a empresa do tamanho que for. “Se você cria um negócio sem diferenciais competitivos, logo a empresa começará a ter problemas financeiros. O consumidor está assustado e, nessa situação, ele busca por marcas fortes. Não existe solução de problemas se não estivermos firmes na realidade”, disse. E uma de suas afirmações, em alusão ao problema do trabalho escravo, gerou polêmica: “Trabalho escravo é o de todo trabalhador brasileiro, que passa mais de meio ano trabalhando para pagar impostos”.
O PAPEL DO FAST FASHION
No segundo painel, Letícia Abraham, do WGSN, Adriana Papavero, da Lectra, e o estilista Alexandre Herchcovitch debateram sobre o papel do fast fashion atualmente: mocinho ou bandido? Para Letícia, o fast fashion é a forma de acesso a produtos de maior valor que gostaríamos de ter, porém, com preço muito menor. No entanto, com o consumo exagerado, ele muda de figura. “Precisa haver consciência da cadeia produtiva e qualidade do produto que é comprado”, ponderou. Herchocovitch fez um contraponto: com o acesso à informação democratizado, vê que um caminho inverso está sendo buscado, as pessoas estão percebendo que, somando o que gastam em várias peças de fast fashion, que durarão pouco, podem investir numa peça de maior qualidade, design e atemporal. “Estamos caminhando para um equilíbrio nesse consumo”, disse o estilista. Para ele, a Ásia, além de costurar bem, está desenvolvendo o design, o que não havia há 15 anos. “Não acho que consigamos competir com a expertise e estratégia de marcado deles, precisamos buscar o que temos de melhor e investir nisso”, salientou.
Para Adriana Papavero, da Lectra, o consumidor é o dono do momento e o grande desafio da indústria hoje é a competividade frente à conectividade. Para exemplificar, destacou a utilização da tecnologia 3D no vestuário, em que as empresas, por meio de um software, colocam suas criações nos mais diversos tipos de manequins virtuais e, com uma maior interação entre estilista e modelista, é possível ter a noção do caimento com mais precisão, o que é um diferencial e tanto para o consumidor na hora de se decidir por um produto. Em consequência, as empresas ganham em qualidade, assertividade, agilidade e competitividade.
E-COMMERCE
No terceiro painel, Pedro Guasti destacou, entre diversos pontos, que há muito espaço para ser explorado no e-commerce, e o principal motivador da compra online é o preço. No entanto, o consumidor tem buscado informações em todos os canais possíveis antes de fechar uma compra – on ou offline. Outros desafios são a falta de padronização dos tamanhos de roupas, fator que gera a maior incidência de trocas, e a logística reversa (trocas e devoluções), que custa quatro vezes mais que a remessa simples.
Ana Isabel, da Shop2gether, falou sobre o mito de que ter um e-commerce sai sempre mais barato do que uma loja física, pois há muitos outros custos por trás. “Vender moda é vender serviço. Para que o consumidor tenha essa experiência real, investimos em profissionais de beleza para personificar o produto e toma-lo ainda mais próximo do cliente”, finalizou.
Roupas infantis agora têm norma de segurança
O Comitê Brasileiro de Têxtil e do Vestuário (ABNT/CB-17), composto de entidades como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção (Abit), o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Abvtex) e a ONG Criança Segura, entre outras, publicou no mês de maio a Norma ABNT NBR 16365/2015, referente à segurança de roupas infantis.
Elaborada por um grupo de estudos do comitê, a chamada Norma de Segurança de Roupas Infantis foi criada com o intuito de promover a segurança das crianças por meio de suas roupas e, ao mesmo tempo, orientar a indústria de vestuário infantil para os critérios de fabricação, com o intuito de minimizar os riscos de acidentes com a aplicação de cordões, cintos e aviamentos nas roupas dos baixinhos (cordões com mais de 5 cm, capuzes, botões, costuras grossas, partes protuberantes, etiquetas costuradas com fios de poliamida etc.), levando em consideração sua faixa etária e atividades praticadas no dia a dia.
De acordo com a Abit, os dados oficiais sobre acidentes infantis no Brasil não são específicos sobre as ocorrências com vestuário, porém mostram que o sufocamento é a principal causa de morte entre bebês de até 1 ano de idade.
“Existem diversos acidentes com crianças, tais como botões que se soltam e são engolidos ou cordões que ficam presos em brinquedos, entre outros. Essa norma estabelece os requisitos mínimos de segurança e desempenho para o vestuário infantil, com o intuito de alertar sobre a importância. Além disso, especifica outras coisas, bem como descreve riscos com aviamentos presentes nas roupas. A existência dessa norma contribuirá para evitar futuros acidentes”, afirma Carlos Santos Amorim Jr., diretor de Relações Externas da ABNT.
O comitê ressalta que essa é, por enquanto, uma norma voluntária, mas as confecções podem adotá-la desde já, adequando sua produção antes que ela vire lei – o que pode acontecer dentro de seis meses a um ano, dada a importância do assunto. A partir do momento em que a lei for publicada, as confecções e o varejo passarão a ser fiscalizados.
“Acreditamos que, com iniciativas desse tipo, a indústria têxtil e de confecção brasileira está cada vez mais preparada para atender o consumidor com segurança, além de poder competir internacionalmente em mercados que já fiscalizaram essas roupas. É importante frisar que, a partir do momento em que a norma se tornar lei, os importados deverão obedecer às regras e estarão sujeitos a fiscalização”, explica o presidente da Abit, Rafael Cervone. Vamos ficar de olho!
A Abvtex, que também participou da elaboração dessa forma, ressalta a importância ao público final. “As redes de varejo associadas à Abvtex representam seus consumidores nesse grupo de trabalho. Essa iniciativa é válida tanto para as lojas físicas como para o e-commerce e a venda por catálogo, oferecendo maior segurança às crianças usuárias desses artigos e ajudando os compradores na escolha das peças ideais para cada faixa etária”, afirma o diretor-executivo da Abvtex, Sidnei de Abreu.
Senai Brasil Fashion chega a São Paulo
Teve início no dia 10 de junho a segunda edição do Senai Brasil Fashion, c a primeira reunião entre nove estudantes do Sistema Senai de todo o Brasil e o grupo de coaches, com Ronaldo Fraga, Alexandre Herchcovitch, Lino Villaventura, entre outros, que os ajudará a desenvolver minicoleções criadas exclusivamente para o projeto. Serão quatro encontros que resultarão em peças inspiradas no tema A Influência do Mundo no Brasil. Cada aluno criará três looks: conceito, prêt-à-porter e streewear, e as peças serão apresentadas por tops internacionais e new faces no dia 13 de agosto, durante desfile para empresários e formadores de opinião do mercado da moda, em São Paulo. O projeto é patrocinado pelo Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/Cetiqt).
CONTA-CORRENTE
BANCO DE TECIDOS É OPORTUNIDADE SUSTENTÁVEL PARA SOBRAS DO MATERIAL
Um novo conceito de negócio. Essa é a proposta do Banco de Tecidos, que utiliza tecidos como moeda corrente. Inaugurado em janeiro de 2015, na Vila Leopoldina, em São Paulo, tem como objetivo colocar de volta na cadeia de produção sobras de tecido que ocupam ateliês e confecções, incentivando a circulação da mercadoria.
“A ideia surgiu após eu constatar que possuía cerca de 600 quilos de tecidos de cores, padronagens e tamanhos variados, conseguidos após 20 anos de intenso trabalho no cinema, teatro, televisão e em diferentes eventos, como o Rock in Rio. Criei o Banco de Tecidos porque não conseguia me desfazer deles por apego, e porque muitos eram de boa qualidade e eu achava o descarte um desperdício. Conversando com amigos, descobri que esse não era um problema só meu, mas de todos nós que trabalhamos com moda ou figurino. Decidi, então, criar o banco para ter um lugar onde pudesse guardar os retalhos, mas eles não poderiam ficar estacionados, tinham que girar. O passo seguinte foi promover a troca com os amigos do meu métier. De repente, o banco cresceu rápido demais e percebi que era um negócio com uma visão sustentável. E foi assim, com uma pegada social e sustentável, que nasceu essa nova forma de negócio”, revela Lu Bueno, designer, cenógrafa, figurinista e sócia-diretora da Lupa Produções e do Banco de Tecidos.
Os interessados podem participar de duas formas: como comprador regular, com cortes de tecidos diversos a R$ 35,00 o quilo, ou como correntista, depositando peças que não utiliza mais, podendo retirar seus créditos em tecidos a qualquer momento, sendo que, dos tecidos depositados, 20% ficam para o banco e 80% para o correntista. Qualquer pessoa pode participar do projeto, seja artesão, criador de moda, costureira, estilista, aderecistas, figurinistas, cenógrafos etc. O banco trabalha apenas com tecidos de reuso, de segunda mão, que tenham história, como sobras de rolo, de confecção ou de produções artísticas. “Hoje atendemos pelo menos cinco pessoas por dia, que se tornam correntistas do banco ou vêm comprar tecidos por quilo. Acho que estou promovendo um negócio sustentável e os tecidos estão sendo preservados, tendo outro fim que não o lixo. Fico feliz em vê-los sendo reaproveitados e circulando”, comemora Lu Bueno.
Conheça o espaço: Rua Campo Grande, 504, Vila Leopoldina, São Paulo (SP), tel.: (11) 4371-3283, site: www.bancodetecido.com.br
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