Sindivest Parana
Nova Capa

Março / Abril 2015

Manual de sobrevivência

Dicas para as confecções se manterem saudáveis no período atual

Não, não é uma receita pronta ou uma fórmula mágica o que você verá aqui nestas páginas. Mesmo porque, se houvesse uma, ninguém estaria enfrentando tanto sufoco, não é mesmo?

Tempos bastante bicudos os que vivemos atualmente em todo o país. E para a confecção não é diferente. Recessão no consumo, alta dos juros, oneração nas folhas de pagamento, falta de água, alta de luz, ânimos políticos exaltados, ou seja, a conta ficou caríssima para nós, e sem direito a parcelamento. O que mais falta?

O balanço de 2014 do setor têxtil e confeccionista anunciado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) no dia 22 de janeiro, em sua sede em São Paulo (SP), não teve uma sonoridade tão acalentadora. Já caminhando em déficit na balança comercial há alguns anos, o setor fechou o ano passado com mais um: US$ 5,9 bilhões, e a previsão para 2015 é que ele se amplie para US$ 6,13 bilhões.

“O que inverterá esse quadro são ações concretas. Por isso, a Abit mapeou 12 áreas para buscar investimentos e melhorias. Em 2015, o foco estará em quatro áreas: trabalhista, tributária, comércio exterior e inovação e produtividade”, declarou Rafael Cervone, presidente da Abit, durante coletiva de imprensa.Segundo ele, ninguém está otimista, mas é preciso trabalhar com confiança no futuro. Na área trabalhista, o foco é a modernização em suas relações; na tributária, é fortalecer as confecções por meio do Regime Tributário Competitivo para as Confecções (RTCC); em comércio exterior, reforço e busca de novos acordos comerciais; e em inovação e produtividade, a intensificação de investimentos em produtos e gestão. As outras áreas destacadas são: segurança jurídica, financiamentos, burocracia, infraestrutura, macroeconomia, educação e capacitação, MPEs (micros e pequenas empresas) e sustentabilidade.

A entidade também fez uma adequação em seu Plano Têxtil até 2030, firmando uma parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o Senai/Cetiqt e a Fundação Certi (Centro de Referência de Tecnologias Inovadoras), especialmente para o projeto “Confecção do Futuro”, que é uma planta industrial modelo de última geração, baseada em conceitos inovadores, que serve de referência a empresários de todo o país; inserção do setor nas cadeias globais de valor (estudo em parceria com o Senai/Cetiqte a Confederação Nacional da Indústria – CNI); inclusão do setor têxtil e confeccionista no Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento (Agenda Tecnológica Setorial); inclusão do kit têxtil no programa Minha Casa Melhor; lançamento da terceira legislatura da Frente Parlamentar Têxtil e Confecção (em março); e participação no 2o Fórum Internacional de Inovação Têxtil, que acontecerá no dia 7 de abril, em São Paulo (SP), enfocando os esportes.

“É fundamental pensar a longo prazo para superar os desafios atuais. Para 2015, apesar do PIB estagnado, estimamos um crescimento de 0,7% na produção de confecção e 0,3% nos têxteis”, destacou Cervone, incentivando as empresas a ampliar seu leque de opções e olhar para outros segmentos que ainda podem ser explorados, como o hospitalar, o automobilístico, o de fardamento e uniformes, por exemplo. O surfwear também se torna um nicho interessante pelo “efeito Medina” e o grande apelo jovial, conforme destaca Marcelo Villin Prado, sócio-diretor doInstituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi). Vale lembrar que, no balanço de 2014, o ano fechou com uma queda de 5% na produção de têxteis em comparação a 2013, e o de vestuário retraiu 2% nesse mesmo período, tendo fabricado 6 bilhões de peças.

“Investir em diversificação de produtos, melhoria de qualidade, operação mais eficiente e design serão ferramentas importantes para enfrentar mais esse período de turbulências”, adverte Thiago Biscuola, economista da RC Consultores, de São Paulo. Para ele, esse é o momento de, em conjunto, as empresas pleitearem a melhora do ambiente de negócios no Brasil, atuando junto às associações de classe.

Outro dado bastante preocupante foi a queda de postos de trabalho. Só em 2014, o setor teve inacreditáveis 20 mil vagas formais fechadas, com previsão de menos 4 mil para 2015. E para onde vão esses trabalhadores, que setor os absorverá? Além dos postos de trabalho fechados, são 24 mil famílias sem renda, o que não gera consumo e, por sua vez, não movimenta o mercado. Sem movimento no mercado, não há movimento na economia do país, o governo deixa de arrecadar. É um círculo perigoso, do qual temos que criar formas de sair. Por isso, além da desoneração da folha de pagamento, que era uma medida inicial importante para a retomada da competitividade, mas que foi revertida, outros pontos da agenda trabalhista precisam ser discutidos a fim de facilitar e desburocratizar a relação empregador-empregado.

“Temos de trabalhar a agenda trabalhista e, que fique bem claro, ninguém está falando de precarização de nada. Mas é um absurdo você pagar um salário menor do que deveria e, ao mesmo tempo, saber que o funcionário custa mais que o dobro do que ele recebe. Há alguma coisa errada, inclusive para todos os níveis de empresa. Portanto, o Brasil tem de se reinventar com uma nova técnica de desenvolvimento: temos oportunidades, talento, competência, já mostramos isso em diversas ocasiões e vamos mostrar de novo. Claro que, por estarmos inseridos na economia mundial, somos influenciados por ela com os mesmos males e benefícios, mas o problema maior é interno, ou seja, nós é quem temos de resolver a nossa vida. A inflação alta é produto de nossas decisões governamentais, assim como os juros altos e o baixo crescimento também são frutos dessas decisões equivocadas”, pondera Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit.

CENÁRIO ECONÔMICO

Assim como num teatro, a atuação de nossos governantes tem se mostrado desastrosa no cenário econômico nos últimos quatro anos, especialmente em 2014. Sob “nova direção”, a equipe econômica liderada pelo ministro Joaquim Levy, conhecido por suas medidas impopulares para arrumar a casa, tem mostrado o lado mais amargo do remédio para curar o estado debilitado ao qual chegamos, mas inevitável para a recuperação.

Na avaliação de Thiago Biscuola, o desafio fiscal será grande, pois o gasto do governo tem crescido numa velocidade maior que a expansão do PIB, e ele não ampliou os recursos para investimentos. “O governo sinaliza, com a indicação dos nomes da equipe econômica, que pretende fazer o ajuste necessário. No entanto, a equipe ainda não revelou como fazer esse ajuste. O risco é fazê-lo, mais uma vez, com o aumento dos impostos, como já se observa com a volta dasContribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O mais grave, agora, é a elevação da contribuição das empresas que adotaram a desoneração em folha, os setores que antes pagavam 1% sobre o faturamento e passarão a recolher 2,5% depois de junho. Além disso, enquanto o mundo se beneficia de custos energéticos em queda, o Brasil vai na contramão e assiste ao significativo aumento do custo da energia elétrica e dos combustíveis. Com certeza, esses últimos gerarão uma pressão de custos adicional importante para a cadeia de têxteis e confecções. A tributação complexa e excessiva é um desafio a ser vencido. O nível das expectativas dos empresários está muito dependente de sinalizações práticas do governo no segundo mandato de Dilma. O desafio de colocar a economia brasileira de volta na rota do crescimento é grande e parece cada vez mais distante”, indica o economista.

ALTA DO DÓLAR: ANJO OU DEMÔNIO?

Em meio a todo o caos que vivemos, talvez só a alta do dólar tenha um papel dúbio nessa situação: boa para uns, ruim para outros. A parte ruim é que maquinário e insumos estão mais caros. Por outro lado,favorece as exportações ao mesmo tempo em que pode ser um freiona entrada de importados, especialmente no vestuário, impulsionando a produção interna.

Zune Jeans, por exemplo, uma das grandes empresas paulistas do segmento e que produz 100 mil peças por mês, atualmente confecciona 40% no Brasil e importa os outros 60%. Para 2015, de acordo com seu diretor, José Eduardo Nahas, haverá uma inversão nessa equação: importar 40% e produzir os outros 60% em casa.

Essa é realmente uma boa oportunidade para aumentar a demanda por produtos nacionais e fortalecer os exportadores, mas não pode ser tomada como uma tábua de salvação, já que o câmbio é oscilante e essa é uma estratégia pontual, como comenta Fernando Pimentel: “Acho que a mistura do câmbio com a incerteza da demanda tende a favorecer uma visão mais a curto prazo e pode beneficiar a indústria local, que tem maior facilidade para trabalhar em condições mais rápidas de entrega e com menores lotes para atender a essa demanda, que está difícil de ser prognosticada. Então, não podemos nos iludir com uma eventual melhoria de curto prazo decorrente de fatores que não controlamos. Esse é um ano em que, se não tivermos feito lições de casa relevantes e se o mundo encontrar um novo ponto de equilíbrio, as coisas voltam a ser como antes”.

Segundo dados da Abit, o setor perdeu competitividade no mercado internacional, mas o Brasil tem todas as condições de ser um grande player, tanto interna quanto externamente, pois inova e produz em grande escala. O que falta é clareza e planejamento nas políticas econômicas e trabalhistas para quehaja condições de os empresários saberem que passos dar. “É preciso que a política econômica seja de Estado, não de mandato”, enfatiza Pimentel.

Para tanto, a entidade vem trabalhando no programa Texbrasil há 15 anos, fomentando a internacionalização da moda brasileira. Nesse período, mais de 1.500 empresas participantes do projeto exportaram US$ 3,2 bilhões – em 2014, elas foram responsáveis por 64,6% das exportações do setor – e geraram 25 mil empregos como resultado dessas ações. Em dezembro de 2014, a Abit firmou seu nono convênio com a Apex-Brasil e tem programadas 776 ações até novembro de 2016, apoiando mais de 250 empresas em 45 feiras no exterior. “Buscamos resultados reais, que já estão sendo apresentados”, afirmou Rafael Cervone.

O Brasil está entre os cinco maiores representantes da área têxtil do mundo e possui a maior cadeia produtiva integrada do Ocidente, além de um varejo que figura entre os sete maiores do mundo, com grande potencial de crescimento. “As estimativas mostram que, se o país engatar novamente a marcha do desenvolvimento, com taxas modestas para o que precisamos ao ano, que é de 3%, e crescimento de renda real em 1% ao ano, o mercado de vestuário sairá de 1,2 milhão de toneladas para 2 milhões de toneladas vendidas nos próximos dez anos, ou seja, é um salto monumental. No entanto, se nada for feito, nós vamos perder essa fatia. O Brasil ficou muito oscilante em sua posição no mercado mundial e o cliente não pode ficar dependendo dos humores das políticas. Não é à toa que 2006 foi o último ano em que tivemos superávit na balança comercial de manufaturados. No ano passado, tivemos mais de US$ 100 bilhões de déficit. O Brasil sempre foi o vagalume dessa política internacional de exportação de manufaturados”, enfatiza Fernando Pimentel.

DICAS PARA ANOTAR, DESDE SEMPRE:

 -       Trabalhar dentro da legalidade e atender às exigências do fisco – honestidade é fator preponderante no mercado;

-       Preocupar-se com o caixa, controlando seu fluxo financeiro e garantindo uma sobra saudável para eventuais impactos econômicos ou de recuo na produção;

-       Estar atento a tudo o que acontece dentro da empresa, tendo um controle eficiente da produção, desde a compra da matéria-prima, os custos, passando pelo maquinário e os trabalhadores, olhando os números e medindo o desempenho por indicadores, sem “achismo”;

-       Não deixar estoque com falta ou excesso de produtos – calcular e programar a produção, pois todos esses são custos;

-       Conhecer a fundo seus produtos e o mercado, adequando-se ao que for necessário, atendendo aos desejos e necessidades dos clientes, sem medo de deixar de produzir em tempos difíceis aquilo que não desperta interesse;

-       Investir em capital humano, reconhecendo e retendo talentos e capacitando-os constantemente – o ativo intelectual é mais valioso que o financeiro, pois é ele que executa e transforma a concepção em realidade;

-       Ganhar velocidade com novas tecnologias;

-       Diminuir a distância com o consumidor final;

-       Especializar-se visando atender a um nicho de mercado e oferecer a ele uma solução completa, com produtos inovadores;

-       Lançar novas marcas para alcançar nichos de mercado específicos;

-       Fazer distribuição multicanal – ver as possibilidades que mais se adequam à sua empresa (lojas próprias, franquias, internet, entre outras);

-       Ter fontes variadas de suprimento – produção própria, terceirização, importação, produção no exterior;

-       Ter maior atuação no ponto de venda para ampliaro giro de produtos;

-       Focar: não chore, não reclame, saia do senso comum daqueles que somente criticam o cenário. Seu foco na solução, e não no problema, o ajudará a seguir em frente.

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A mudança de perfil da indústria confeccionista brasileira

Século 21. A era da informação avança com fatores globalizadores que facilitam o acesso a todos os segmentos de atuação. Para a indústria confeccionista nacional isso não é diferente. A abertura das portas de importação facilitou a entrada de novas tecnologias e métodos de produção e insumos. Desde então o Brasil passa por uma mudança no perfil do porte das indústrias.

Ávidos por seu próprio negócio, empreendedores brasileiros emergiram mudando o tamanho das indústrias, que até então eram em sua maioria de grande porte, para empresas de micro e pequeno porte. Apesar do crescimento no número de indústrias, entre 2008 e 2012 essa mudança ainda é notória. Em relatório de 2013 do Instituto de Estudos e Marketing Industrial, essa mudança é demonstrada pela grande participação de micros e pequenas empresas na indústria de confeccionados que, somadas, representam 96,83% das indústrias nacionais, enquanto empresas de grande porte não chegam a 1% de participação.

Essas mudanças apresentam aspectos positivos e negativos para a indústria nacional. Positivamente, o acesso a informações dissipadas por meio de veículos como internet e redes sociais, cursos de formação disponíveis em centros específicos como o Senai Francisco Matarazzo, localizado no Brás, grande polo confeccionista de São Paulo, e a possibilidade de começar uma nova empresa de forma organizada usando recursos e apoio de forma adequada, de organizações como o Sebrae, gera a chance de um começo promissor e pautado em estruturas competitivas para o enfrentamento das indústrias estrangeiras, maiores concorrentes da indústria confeccionista e nacional.

Negativamente, a informalidade é a grande vilã da progressão desse novo perfil de indústria. A ausência de programas de incentivo e de apoio às empresas de micro e pequeno porte e o volume de taxações para insumos e produtos acabados desmotivam as indústrias de todos os tamanhos a investir em inovação e formação do quadro funcional, gerando descrença e busca de outros segmentos mais atrativos no mercado de trabalho.

Como alternativas para essa nova indústria, e até para as ainda sobreviventes de grande porte, o fortalecimento dos pontos positivos e o combate dos pontos negativos já melhorariam muito o quadro atual. Se considerarmos a burocracia e a lentidão da máquina administrativa pública, uma boa ação seria a mudança de postura dessas indústrias e estaria na oferta de produtos que não sejam concorrentes diretos das indústrias estrangeiras, ou seja, não produzir commodities e investir em itens que agreguem mais valor por fatores de qualidade ou diferenciação, mudando a rota de colisão com produtos importados. A mobilização setorial com ações de compartilhamento de know-how também é muito praticada em países que buscam o fortalecimento por diferenciação, pois em conjunto o poder de exigência e ações seria maior.

Fábio Murcia Marques é professor de planejamento e gestão de produção da escola Senai Francisco Matarazzo de Vestuário, mestre em têxtil e moda pela USP e pós-graduado em administração de marketing pela Faap.

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RESERVA É ÚNICA EMPRESA BRASILEIRA NO RANKING DAS MAIS INOVADORAS DO MUNDO

A revista de negócios norte-americana Fast Company anunciou no dia 9 de fevereiro sua lista de 2015 das empresas mais inovadoras do mundo (Most Innovative Companies). Em primeiro lugar, ficou a ótica nova-iorquina Warby Parker, seguida de nomes como Apple, Toyota, Google, Netflix, Ikea e L’Oréal. A única empresa brasileira a figurar no ranking entre as mais inovadoras da América Latina foi a grife carioca Reserva. A escolha deu-se pela campanha institucional Rebeldes com Causa,criada pela marca em 2014 com o intuito de promover a responsabilidade social por meio do apoio e da divulgação de 11 projetos selecionados feitos por jovens que não se importam com a dificuldade de implantá-los, mas sim em torná-los reais de alguma forma, criando oportunidades para quem tem poucas chances na vida, por meio de educação, esportes e música, entre outros. A ideia é muito bacana e pode ser conferida no site www.reservarebeldescomcausa.com.

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PRA FRENTE, BRASIL

clique para ampliarclique para ampliarDivulgação (Foto: .)

Seguindo o exemplo de empresas nacionais que estão criando e apoiando campanhas de incentivo à produção realizada no Brasil, a Tecelagem Panamericana está fazendo sua parte e lançou em fevereiro o movimento #aquitemBrasil, com o objetivo de apoiar e incentivar a indústria nacional a participar e tornar o debate o assunto mais falado no dia a dia, nas mídias sociais, em palestras, feiras e eventos; e promover a produção e uso de artigos confeccionados no país. A ideia central foi da Abit, que já conta com uma campanha em âmbito nacional, e a Panamericana decidiu apoiar e criar sua própria campanha para fortalecer a causa.

FONTE: Costura Perfeita (Edição Março e Abril 2015)

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