Embrapa começa a testar novo algodão tolerante à seca
Publicado em 17/08/2015
A Embrapa conseguiu um resultado extremamente promissor para a cotonicultura no Brasil: a obtenção de plantas
geneticamente modificadas (GM) de algodão com maior capacidade de tolerar os longos períodos de veranico e seca
a que são submetidas no bioma Cerrado, principal região produtora do País.
A conquista é decorrente da introdução de um gene denominado DREB (dehidration responsive element
bending) em plantas de algodão.
Nos testes, as plantas foram submetidas à retenção de água nas casas de vegetação
da Embrapa Arroz e Feijão (GO) e mostraram maior desenvolvimento de parte aérea e raiz, assim como aumento de
26% na manutenção de suas estruturas reprodutivas (botões florais, flores e frutos) em relação
às plantas não transgênicas sujeitas às mesmas condições de estresse hídrico.
O próximo passo é solicitar à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)
autorização para testar a variedade no campo, o que deverá ser feito em outro centro de pesquisa da Empresa:
a Cerrados (DF).
A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma cooperação internacional iniciada em 2009 envolvendo dois centros
de pesquisa da Embrapa, Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) e Algodão (PB), com o Japan International Research
Center for Agricultural Sciences (JIRCAS), órgão vinculado ao governo japonês.
"Trata-se de um resultado muito positivo e promissor para o agronegócio brasileiro", comemora a pesquisadora Maria
Eugênia de Sá que, com a estudante de pós-doutorado Magda Beneventi, conduziu os estudos na Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, sob a coordenação da pesquisadora Fátima Grossi. Na Embrapa Algodão,
as pesquisas foram realizadas pelo pesquisador Giovani Brito que, atualmente, compõe o quadro da Embrapa Clima Temperado.
As plantas de algodão tolerantes à seca podem ajudar os cotonicultores brasileiros a enfrentar uma das
piores ameaças a esse setor hoje no País: a alta ocorrência de veranicos no bioma Cerrado, marcados por
longos e fortes períodos de seca.
Primeiro resultado positivo no mundo com gene DREB em algodão
As pesquisas consistiram na introdução do gene DREB 2A em plantas de algodão para induzir a tolerância
à seca. Esse gene já vinha sendo aplicado com sucesso pela equipe da pesquisadora Yamaguchi Shinozaki do laboratório
de estresses abióticos do JIRCAS, tendo resultado no desenvolvimento de plantas de arroz, trigo, tabaco e Arabidopsis
thaliana (planta-modelo) com níveis diferenciados de tolerância à seca. O gene DREB está diretamente
ligado à expressão de proteínas e a sua principal vantagem é a capacidade de ativar outros genes
responsáveis pela proteção das estruturas celulares durante o deficit hídrico.
O gene foi disponibilizado pelo instituto japonês, a partir da cooperação técnica entre as
duas instituições, e sua introdução em plantas de algodão foi uma iniciativa pioneira da
Embrapa em nível mundial.
Os resultados foram bastante promissores, como explicam as pesquisadoras Fatima Grossi e Maria Eugênia de Sá,
especialmente em relação às raízes das plantas, que alcançaram o dobro da profundidade
comparadas às plantas convencionais, aumentando a absorção e retenção de água para
enfrentar o estresse hídrico.
Essa característica é extremamente vantajosa para as condições dos solos de Cerrado, que
são do tipo latossolos profundos, com boa capacidade de armazenamento de água, o que favorece a seleção
de plantas com sistema radicular mais desenvolvido.
"Em condições de estresse, as plantas de algodão GM foram capazes de absorver água com maior
eficiência em relação às não transgênicas, graças ao melhor desempenho morfológico
e robustez das raízes (superfície total, comprimento e volume), sem necessidade de gastar muita energia.
Foi verificado também que o desenvolvimento da parte aérea das plantas de algodão GM foi cerca de
15% superior ao das convencionais, incluindo a área foliar total, massa seca e altura das plantas, respectivamente.
Além disso, foi observado maior número de estruturas reprodutivas (botão floral, flor e maçã)
nas plantas GM (em torno de 26%) em comparação com as convencionais, sob condição de estresse
severo.
Brasil entre os maiores produtores
O algodão é um produto de extrema importância socioeconômica para o Brasil. Além de
ser a mais importante fonte natural de fibras, garante ao País lugar privilegiado no cenário internacional como
um dos cinco maiores produtores mundiais, ao lado de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.
Até a década de 1980, o cultivo de algodão no Brasil era concentrado, principalmente, nas regiões
Nordeste e centro-sul. A introdução do bicudo-do-algodoeiro, praga de maior impacto dessa cultura, aliada a
outros fatores socioeconômicos e ambientais, devastou as lavouras algodoeiras no período, fazendo com que o Brasil
passasse de exportador a importador de algodão.
A partir da década de 1990, a cultura migrou para a região do Cerrado e hoje ocupa uma área superior
a um milhão de hectares, concentrada principalmente nos estados de Mato Grosso, Bahia e Goiás.
Várias estratégias podem ser utilizadas para reduzir as perdas causadas pela seca, como o manejo adequado
do solo e da lavoura e irrigação, entre outras. A biotecnologia tem se consolidado como importante aliada da
agricultura nas últimas décadas, pois permite desenvolver variedades adaptadas a diferentes condições
de estresses bióticos e abióticos.
Além de garantir a estabilidade da produção no Cerrado, a Embrapa espera contribuir também
para o restabelecimento da cultura do algodão na região Nordeste do Brasil. "Em ambos os casos, os impactos
sociais e econômicos poderão ser muito expressivos", acreditam os pesquisadores responsáveis pelo estudo.
Fonte: De olho no campo
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