clique para ampliarclique para ampliar (Foto: Divulgação)

Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), da Universidade de São Paulo, um grupo liderado pela professora Juliana Pfrimer Falcão se dedica à investigação genômica das principais bactérias envolvidas nas doenças diarreicas agudas. Em trabalho publicado na revista PLOS ONE, as biomédicas Amanda Aparecida Seribelli e Fernanda Almeida, do grupo de Juliana, sequenciaram e investigaram o genoma de 90 amostras (ou cepas) de uma sorovariedade específica da Salmonella enterica chamada Salmonella typhimurium (abreviação de Salmonella enterica subespécie 1 serotipo Typhimurium).

As 90 amostras foram isoladas entre 1983 e 2013 no Instituto Adolfo Lutz de Ribeirão Preto e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Rio de Janeiro. Elas fornecem um retrato da epidemiologia de salmonelose no Brasil nos últimos 30 anos, pois são provenientes de todas as regiões do País, tendo sido coletadas em pacientes acometidos por infecções alimentares, ou então em alimentos contaminados, como carne aviária e carne suína, incluindo embutidos, ou então vegetais como alface, entre outros.

"De humanos, recebemos amostras de sangue, de abscesso cerebral e fezes diarreicas", disse Seribelli à Agência FAPESP. Ao testar a ação dos antibióticos em cada uma das 90 cepas, descobriu-se que a grande maioria delas se mostrou resistente a diferentes classes de antibióticos que fazem parte do arsenal da medicina. O estudo também resultou na identificação de 39 genes responsáveis pela resistência aos antibióticos.

Origem da resistência

O trabalho com SNPs identificou um total de 39 genes de resistência a diferentes classes, como aminoglicosídeos, tetraciclinas, sulfonamidas, trimetoprim, beta-lactâmicos, fluoroquinolonas, fenicol e macrolídeos. Também se constatou a ocorrência de mutações pontuais em alguns dos genes, como gyrA, gyrB, parC e parE.

"Chama a atenção a resistência de S. Typhimurium a antibióticos que podem ser utilizados no tratamento da doença. São drogas que estão à disposição dos médicos para o combate a infecções que apresentam resistência. São a segunda linha de defesa, quando os microrganismos não são mortos pelo sistema imunológico do paciente, uma vez que normalmente a salmonelose é uma doença autolimitada e que não precisa do uso de antibióticos. O maior problema é quando isso falha e a bactéria torna-se invasiva", disse Seribelli.

Outro ponto que chamou a atenção dos cientistas foram os diferentes graus de resistência das cepas, quando distribuídas ao longo dos 30 anos de coletas. As amostras de S. Typhimurium coletadas em meados de 1990 tinham maior resistência aos antibióticos do que aquelas que passaram a circular entre a população após esse período. Seribelli explica que a possível explicação para isso está na emergência, no início dos anos 90, da sorovariedade S. Enteritidis, que se tornou desde então um dos principais agentes nos casos de salmonelose.

"O principal resultado do trabalho foi descobrir a grande quantidade de genes de resistência a antimicrobianos encontrados nas amostras, considerando que são amostras isoladas de humanos e alimentos. Constata-se que existe hoje no Brasil um risco muito grande de contaminação a partir dos alimentos com linhagens de Salmonella resistentes a antimicrobianos", disse Fernanda à Agência FAPESP.

O artigo completo pode ser lido no link: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0201882.

Doença no Brasil

Entre 2000 e 2015, foram registrados pelo Ministério da Saúde em todo o Brasil 11.524 surtos de doenças transmitidas por alimentos, contabilizando 219.909 doentes e 167 óbitos. O principal agente causador dos surtos de infecções alimentares, diarreia e gastroenterites são as bactérias, sendo as mais frequentes aquelas do gênero Salmonella, com 31,7 mil casos diagnosticados (14,4% do total), seguidas por Staphylococcus aureus (7,4%) e Escherichia coli (6,1%).

Outro levantamento, feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social, dá conta de que 42,5% dos surtos alimentares confirmados laboratorialmente no Brasil de 1999 a 2009 tiveram como agente etiológico bactérias do gênero Salmonella.

Com informações e foto da Agência FAPESP.

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