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Vera Saavedra Durão
As siderúrgicas brasileiras devem apresentar resultados muito ruins no terceiro trimestre, principalmente as produtoras de aços planos. As expectativas do mercado são que Usiminas, CSN e Arcelor Mittal fechem o trimestre no vermelho. O prejuízo pode decorrer da perda de margem devido à concorrência das importações, direta e indireta de aço, impacto da variação cambial na dívida e até queda do valor das ações.
A Gerdau, fabricante que tem foco nos segmentos de aços longos e especiais, é a que sofre menos nesse cenário, destaca Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora.
Segundo Galdi, a Gerdau tem ativo e passivo dolarizados e os mercados em que atua, como o automotivo e o de construção civil, ainda continuam aquecidos. O setor automotivo teve crescimento até agosto e a construção civil ainda mantém o fôlego.
Já a Usiminas, na sua avaliação, vai sofrer o impacto da variação cambial no período. "A siderúrgica mineira tem 40% de sua dívida atrelada ao dólar e haverá um impacto negativo no resultado financeiro, o que pode levá-la a ter prejuízo", afirma o analista.
A CSN também tem dívida em dólar, mas tem hedge, o que neutraliza o impacto negativo sobre seu resultado. Entretanto, como observa o analista, a siderúrgica de Benjamin Steinbruch passou a ter um risco adicional por conta do movimento de compra de ações da Usiminas, na tentativa de incorporar a concorrente à sua empresa.
"A CSN pode ter uma surpresa negativa no resultado se seus acionistas forem marcar a mercado a posição que têm na Usiminas. O prejuízo pode ser grande no resultado financeiro da empresa", avalia Max Bueno, da Corretora Spinelli.
A Arcelor Mittal do Brasil, como as outras do segmento de aço plano, sofreu o forte impacto da concorrência das importações e deve encerrar o trimestre no vermelho, adiantou uma fonte do setor siderúrgico. Como é de capital fechado no país, o desempenho deverá estar informado no balanço global do grupo.
Nesse cenário, as notícias de que a Gerdau e a CSN estariam para anunciar um reajuste de preço, a vigorar em novembro, foram vistas como pouco prováveis pelos analistas. Eles não veem ambiente para as usinas brasileiras darem aumentos no momento em que o preço do aço lá fora caiu em média 5% e as importações ainda competem com a produção doméstica.
Outro fator que anula esta probabilidade é o recente movimento de queda do dólar, depois de ir a R$ 1,95 em agosto. A moeda baixou para níveis de R$ 1,77 na semana passada e pode chegar a R$ 1,73, indica o Boletim Focus, do Banco Central. Essa tendência de queda frente ao real e a retração dos preços do aço no exterior praticamente impedem um reajuste do preço no mercado doméstico com vistas a repor as margens das siderúrgicas.
"Isso até teria sido possível se o dólar tivesse se mantido em R$ 1,90", observam os analistas. A valorização da moeda americana no terceiro trimestre foi de 18,8%, com a Ptax encerrando o período em R$ 1,8544, ante R$ 1,5611 do segundo trimestre.
"Qualquer reajuste que for dado agora, mesmo na faixa de 4% a 5%, pode estimular as importações", aponta uma fonte do setor. A boa notícia é que em setembro o nível de estoques na distribuição voltou a cair, baixando de 2,9 meses de vendas para 2,7 meses, segundo números a serem divulgados pelo INDA, entidade dos distribuidores de aços planos.
Mas se o prêmio entre o importado e o aço nacional voltar a subir, as compras externas do produto voltam a ganhar força, já que há uma superoferta de aço no mercado global acima de 500 milhões de toneladas.
Com os preços vigentes no mercado internacional por conta da crise nos Estados Unidos, Europa e Japão, também reduz-se o espaço de exportação do aço brasileiro. A retração do consumo nos países desenvolvidos afrouxa cada vez mais o preço de bens siderúrgicos. Até mesmo na China, onde a demanda ainda é forte, uma bobina a quente baixou de US$ 710/705 a tonelada para US$ 660, uma queda 7% a 8%.
O viés de preço para os produtos siderúrgicos é de baixa no mercado mundial, por causa da retração da demanda, conforme revelam os números da World Steel Association (WSA). As usinas europeias começam a cortar a produção fechando alto-fornos na Europa, caso da Arcelor Mittal, maior produtora de aço do mundo, na semana passada.
A expectativa dos analistas é que o Instituto Aço Brasil (IABr), entidade dos fabricantes nacionais de aço, reveja novamente para baixo suas previsões de produção e consumo aparente do produto deste ano no país. De janeiro a setembro, a retração prevista era de 13% no consumo de aço plano.
Em agosto, o IABr reviu para 36,3 milhões de toneladas o volume de produção de aço bruto no Brasil em 2011,10,5% maior que o total do ano passado, mas com queda de 8% ante a projeção de 39,4 milhões de toneladas do início do ano.
Para o IABr, isso se deveu "à expectativa de menor crescimento do mercado interno devido ao desaquecimento da economia, à persistência de estoques elevados e à acirrada competição das importações, particularmente por setores consumidores intensivos em aço".
O que pode sinalizar uma perspectiva de melhora para a siderurgia, não só no Brasil, mas no mundo, é a tendência de baixa que já se manifesta nos preços do minério de ferro e do carvão, as duas principais matérias-primas do aço, em decorrência da crise que afeta os países desenvolvidos.
Na semana passada, o preço do minério no mercado "spot" chinês bateu em US$ 169 por tonelada, depois de ter chegado a US$ 180/179 em setembro. "A queda de preços das matérias-primas pode ajudar as siderúrgicas a recuperar margem operacional", avalia um consultor do setor. Mas ele é cético quanto a uma recuperação no curto prazo, levando as empresas a engavetar projetos de investimento.