O Brasil pode crescer a uma taxa de 7% a 8% ao ano, sem gerar inflação. Para o crescimento acontecer
neste patamar é necessário a adoção de um novo modelo de desenvolvimento, que passa pela queda da taxa de juro, uma nova política
de câmbio e mais investimentos em infra-estrutura. A tese foi defendida nesta sexta-feira (23),
em São Paulo, no workshop "Política Industrial e Aceleração
do Crescimento: desafios e oportunidades", promovido pelo Conselho Temático de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico
(COPIN), da CNI.
O evento reuniu pesquisadores de instituições de ensino de todo o Brasil e empresários que desde
setembro último estudam os grandes temas de interesse das indústrias, para pautar políticas públicas de desenvolvimento.
"Uma política industrial consistente, que permita ao país retomar o crescimento, depende alterações
da macro economia", disse Rodrigo da Rocha Loures, presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep),
que também preside o COPIN.
Segundo ele, nos primeiros anos após a adoção dessa política industrial o Brasil pode crescer
em torno de 10% ao ano, porque ficou muito tempo estagnado. Depois o crescimento deve se estabilizar na faixa de 7 a 8% ao ano.
O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, que participou do evento como convidado, alertou para
o processo de desindustrialização prematura que o Brasil sofre. Para ele, o problema do país está na demanda, e não na oferta.
"Não tem demanda porque não tem investimento. E isso acontece porque não há oportunidade de investimento lucrativo no Brasil",
afirmou.
Bresser Pereira explicou que o desenvolvimento econômico acontece com o aumento de produtividade,
que se dá com a intensificação dos setores de alto valor agregado e elevado conteúdo tecnológico, o que não tem acontecido
no Brasil.
A exemplo do que aconteceu na Holanda, que baseou sua economia no petróleo, o Brasil está se
baseando na soja, açúcar, ferro e aço, onde tem as ditas vantagens comparativas. Bresser defende para o Brasil o modelo adotado
pela Argentina, que taxou com imposto de exportação produtos como soja, carne e trigo.
Contramão - O Brasil está caminhando na contramão de todos os paises emergentes com os quais compete. "Para conseguirem competir,
os paises emergentes se baseiam no câmbio depreciado para compensar o déficit tecnológico em relação aos paises desenvolvidos.
No Brasil o que acontece é o contrário", disse José Luis Oreiro, pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), integrante
do grupo que estuda política industrial e macro economia.
Ele defende a aceleração do crescimento por meio da elevação do ritmo da demanda, com estimulo
às exportações. "Para isso, é preciso que a taxa de cambio no Brasil seja competitiva", afirma.
O professor David Kupler, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que o País
vive um dilema estrutural e precisa definir se vai seguir para um processo de especialização ou diversificação da economia.
O que tem acontecido, segundo ele, é a especialização em setores baseados em recursos naturais. Para o pesquisador, que estuda
as estratégias de desenvolvimento industrial, o melhor caminho seria pela diversificação.
"A melhor estratégia de desenvolvimento industrial consiste em elevar os investimentos em pesquisa
e desenvolvimento, consolidar segmentos de pequenas e médias empresas, por meio de Arranjos Produtivos, e favorecer as tecnologias
portadoras de futuro", defendeu.
Grupos de estudos - Os grupos de pesquisadores e empresários, sob a coordenação do COPIN, estão se dedicando a estudar os grandes
temas de interesse da indústria: estratégia de desenvolvimento industrial; institucionalidade da política industrial; macroeconomia;
regionalização da política industrial e inserção internacional da industrial.
Os estudos servirão para subsidiar as discussões do II Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria,
que acontece de 23 a 25 de abril, em São Paulo. A previsão é reunir 600 participantes, entre empresários, lideranças
empresariais e pesquisadores. O congresso vai resultar numa agenda de desenvolvimento industrial e tecnológico, que será encaminhada
pela CNI para governantes de todos os níveis, com o propósito de pautar políticas publicas que promovam o desenvolvimento
do país.
Fonte: Fiep-PR