O novo comando da Oi decidiu ajustar o foco da empresa de telefonia para as classes C, D e E. A ordem é aumentar receitas o mais rápido possível com a venda de celulares pré-pagos, mais populares nessa faixa de renda.
Para isso, haverá ofertas mais agressivas e expansão dos pontos de venda.
O direcionamento vem acompanhado de uma revisão dos gastos. O objetivo é cortar custos em todas as frentes, renegociando contratos e aumentando a produtividade dos funcionários.
A opção pelo pré-pago é mais pragmática do que estratégica. Na avaliação de Zeinal Bava, que preside a companhia desde junho e comandará a empresa resultante da fusão com a Portugal Telecom, a operadora não tem rede de infraestrutura suficiente hoje para suportar campanhas massivas no pós-pago, segundo apurou a Folha.
Sem sinal de qualidade, os clientes de conta fixa, que tendem a consumir mais dados, não vingam.
Além disso, o usuário pré-pago reage mais rapidamente às promoções, fazendo recargas de crédito. Trata-se de receita "sem complicações", sem contas atrasadas ou problemas de cobrança.
A medida é tratada internamente como transitória, mas necessária diante do quadro atual da empresa.
Desde 2009, a Oi vem perdendo participação de mercado em todas as principais frentes e, com receitas estagnadas em quase R$ 30 bilhões, acumula hoje uma dívida tão grande quanto.
Será preciso brigar para roubar clientes de outras operadoras, num país com clientes pré-pago já habituados a ter dois ou mais chips. Há, contudo, flancos a serem explorados.
Nas regiões Norte e Nordeste, 35% da população ainda não possui celular, segundo o IBGE.
Não à toa, a Oi inaugurou mais duas lojas em Fortaleza no fim de outubro.
ARRUMAR A CASA
O novo direcionamento não significa que a Oi vá abandonar outras frentes como o pós-pago, a banda larga e a TV por assinatura, que seguirão recebendo investimentos. A estratégia agora é arrumar a casa antes de atacar pesado em diversas frentes.
No segmento residencial, a meta é fazer o cliente adquirir ao menos mais um serviço -em vez do objetivo anterior de tentar convencê-lo a consumir todos os produtos.
"Eles tentaram expandir tudo ao mesmo tempo e ficaram perdidos em qualidade. A Oi tem uma base de telefonia fixa gigantesca, que é o primeiro passo para vender o segundo produto. O que se espera agora é foco", diz Marcelo Torto, analista da Ativa.
Bava cortou dividendos, vendeu R$ 4 bilhões em ativos, restringiu horas extras e eliminou folgas de fim de ano. Agora, parte para a renegociação de contratos com fornecedores de equipamentos de rede.
Ele já sinalizou que os investimentos em 2014 serão reduzidos. Será preciso, portanto, fazer mais com menos.
Diante disso, a Oi importou um software israelense de origem militar para "enquadrar" seus quase 30 mil técnicos de rua, o chamado projeto Click.
Pelo sistema, os instaladores serão selecionados para as visitas e monitorados. O objetivo é aumentar a qualidade do atendimento, mas tem clara ordem financeira: quanto mais visitas um instalador fizer por dia, menos dinheiro a empresa gastará.
A empresa, segundo a reportagem apurou, espera economizar até R$ 20 milhões por ano após a implementação completa do projeto, em junho de 2014.
Oi tenta estreitar relações como governo
A Oi vem se empenhando em estreitar relações com o governo, que vê com bons olhos os planos da nova administração, mas ainda não está totalmente convencido de que as mudanças de rumo na empresa trarão bons resultados.
Desde que assumiu o cargo, em junho, o presidente da companhia, Zeinal Bava, já esteve em Brasília em ao
menos duas ocasiões. Na agenda, encontros com o ministro Paulo
Bernardo (Comunicações), o secretário-executivo
da pasta, Genildo Lins, e o presidente da Anatel, João Rezende.
A ideia da diretoria da Oi é transformar o beija-mão em um compromisso frequente.
Dar mais transparência aos planos futuros faz parte do projeto de reconquistar a confiança de Brasília. Segundo a Folha apurou, Bava levou às reuniões uma lista com o que pretende executar nos próximos meses, com ênfase em corte de gastos e aumento de eficiência.
Forjada no governo Lula, que mobilizou BNDES e fundos de pensão para financiar a empresa e possibilitar sua fusão com a Brasil Telecom, a Oi tornou-se símbolo de fracasso no projeto do Planalto de criar "campeãs nacionais".
Atolada em dívidas, a "supertele" acabou sendo vendida aos portugueses.
Fonte: Folha de S. Paulo
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