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05/11/2013

Se fosse SP

Capital paulista tem o desafio de eliminar a fiação aérea a exemplo de grandes cidades mundiais; veja o impacto de postes e cabos nesses cartões-postais

Se fosse São Paulo, o horizonte em que desponta a Torre Eiffel, em Paris, seria conturbado por postes e fiação elétrica, de telefones, faróis de trânsito e TVs a cabo.

Em Nova York, a fachada do Metropolitan, admirada por brasileiros em viagem de férias ou compras, perderia um tanto de sua imponência se transpassada pela fiação aérea das ruas paulistanas.

O mesmo vale para Londres, seus prédios de tijolinhos e o Big Ben.

Só que Londres tem 100% da fiação no subsolo da cidade. Paris está quase lá e Nova York tem 72% dos fios no subterrâneo -onde o vetor da mudança, feita a partir dos anos 1920, foi estético.

Já São Paulo tem só 7% dos cabos de luz, telefone e TV debaixo da terra, caso de ruas e avenidas privilegiadas como Paulista, Rebouças, Faria Lima e Oscar Freire.

Para evidenciar o impacto da fiação aérea na paisagem, as imagens desta página foram alteradas em computador: a vasta coleção de fios da capital paulista foi aplicada aos cenários parisiense, londrino e nova-iorquino.

Em São Paulo, os fios disputam espaço com as árvores (e muitas vezes sucumbem a elas) e com frequência não resistem a temporais típicos de verão, deixando como rastro bairros no breu e semáforos apagados em pleno rush.

Ao longo do ano passado, os paulistanos ficaram sem energia pelo menos em quatro ocasiões, que somaram, em média, oito horas.

Um estudo encomendado pela AES Eletropaulo à consultoria McKinsey sobre a viabilidade das redes subterrâneas na cidade diagnosticou que, caso fosse substituída a rede aérea, esses quatro episódios de queda de luz cairiam para um, em média.

"Do ponto de vista técnico, faz muito sentido converter a rede de distribuição pela subterrânea, que é mais protegida e menos sujeita às intempéries", explica Gustavo Pimenta, vice-presidente financeiro da AES Eletropaulo.

Segundo ele, a alteração é um "caminho natural do desenvolvimento" que diminui o número de atendimentos emergenciais, mas aumenta o custo de cada uma das intervenções na rede.

ARTICULAÇÃO

O estudo aponta dois grandes desafios para que os fios desapareçam do panorama paulistano: definir quem paga a salgada conta e como articular, a um só tempo, a mudança das redes de outras empresas que utilizam os postes.

"Apresentamos o estudo para empresas e associações", diz Pimenta.

Questionada sobre a intenção de enterrar sua rede, a Net informou que "vem atuando em projetos de aterramento", como na Faria Lima e no largo da Batata.

A Embratel diz também participar dos projetos de conversão propostos pela prefeitura e pela Eletropaulo.

A Tim afirma estar disposta a avaliar propostas que causem "o menor impacto possível na paisagem".

A Telefônica/Vivo não quis se manifestar sobre o tema.

ENTERRAMENTO ELEVARIA TARIFA EM ATÉ 10%

Estimativa foi feita para o centro expandido de São Paulo; medida custaria R$ 15 bi e levaria cerca de dez anos

Projeção de custo foi considerada exagerada por engenheiros; valor ficaria estável por 30 anos, segundo estudo

Os planos para conversão da rede aérea de fios para a subterrânea terminam em um nó: o custo da operação.

"Quanto mais densa a cidade, mais cara é a intervenção", explica Gustavo Pimenta, vice-presidente financeiro da AES Eletropaulo.

Segundo cálculos da empresa, enterrar' a fiação do centro expandido de São Paulo custaria cerca de R$ 15 bilhões, ou R$ 5,8 milhões por quilômetro quadrado.

O processo levaria cerca de dez anos, e só seria possível com impacto no valor da tarifa de energia elétrica.

Em um dos modelos de financiamento apontados pelo estudo feito pela consultoria McKinsey, 80% dos custos seriam financiados por meio de isenção fiscal sobre serviços relacionados ao enterramento (ISS) e aos equipamentos (ICMS), além de parceria com governo federal e com as demais empresas que utilizam a rede aérea.

A projeção foi feita em parceria com a Fundação Getulio Vargas e a Escola Politécnica da USP.

Os 20% restantes seriam repassados ao consumidor na tarifa, que sofreria um aumento de 5% a 10%.

O aumento seria gradual, à medida em que as obras forem realizadas.

Tal incremento na tarifa se estenderia por cerca de 30 anos, período de amortização dos investimentos realizados.

De acordo com os cálculos, uma conta de luz de R$ 100 aumentaria gradual e progressivamente até atingir o patamar de R$ 110, no qual permaneceria durante mais ou menos três décadas.

"A grande maioria dos países justifica a conversão pelo impacto visual nas cidades, logo no turismo, além da valorização de imóveis. É difícil encontrar uma justificativa financeira para essas obras. Não existe mágica", afirma Pimenta.

"Mas temos consciência de que o enterramento de fios é uma demanda crescente da sociedade."

NÚMEROS

A estimativa dos custos das obras de conversão foram consideradas exageradas por engenheiros presentes em audiência pública sobre o tema convocada pelo Ministério Público Federal.

A AES Eletropaulo afirma que os custos de instalação da rede subterrânea são de 10 a 16 vezes mais altos que os da rede aérea.

Porém, relatório de 2012 do Edison Electric Institute, que reúne as empresas norte-americanas de fornecimento de energia estima os custos da rede subterrânea como de 3 a 10 vezes mais altos.

Além disso, o relatório americano afirma que a fiação enterrada é 13 vezes mais segura que a aérea.

"Acho difícil aplicar no Brasil os custos dessa operação em outros lugares do mundo", avalia Pimenta.

"O subsolo de São Paulo é desconhecido e tem trazido mais surpresas negativas do que positivas. Ainda assim, existe espaço para a redução dos custos da operação no país."

clique para ampliar>clique para ampliarMontagem com a vista da Torre Eiffel, em Paris, se a cidade francesa tivesse fios expostos (Foto: Jacques Demarthon)
clique para ampliar>clique para ampliarFachada do museu Metropolitan, em Nova York, em montagem com fiação elétrica de SP (Foto: Márcio Pena)

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