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Publicado em 28/01/2016
FONTE:Biomassa BR
Entrevista exclusiva com a Prof.ª Dra. Suani Teixeira Coelho
Suani Teixeira Coelho é engenheira química, com mestrado e doutorado em Energia No Programa de Pós Graduação em Energia da Universidade de São Paulo, onde é atualmente professora, orientadora e coordenadora do GBio - Grupo de Pesquisa em Bioenergia – antigo CENBIO, no Instituto de Energia e Ambiente da USP.
Biomasssa BR – Como você definiria hoje o setor da Biomassa no Brasil e no mundo?
O setor de biomassa
no Brasil ainda enfrenta algumas dificuldades por falta de políticas adequadas nos setores de transporte e elétrico,
apesar de todas as vantagens ambientais, sociais e estratégicas.
No mundo, o setor de biomassa recebe cada
vez mais interesse, inclusive em países da União Europeia, uma vez que a biomassa pode ser usada para substituir
os combustíveis fósseis na geração termelétrica visando atingir as metas de redução
de carbono.
Biomassa BR – Quais os principais gargalos a serem resolvidos para que o setor da Biomassa avance
em nosso país?
Para responder a esta pergunta é necessário analisar em separado cada setor:
- setor de transporte: o etanol ainda não recebe os incentivos adequados do governo. Desnecessário lembrar
o controle informal dos preços da gasolina até final de 2014, como tentativa de controle dos índices
de inflação. Como o etanol necessita ter preços na bomba até o limite de 70% da gasolina, o álcool
ficou indiretamente controlado. Os resultados estão claramente identificados com a crise que o setor atravessou e ainda
atravessa, com inúmeras usinas fechadas.
- setor elétrico - os leilões de compra de energia não
levam em conta as vantagens da biomassa não apenas em termos ambientais (energia renovável), mas em termos estratégicos
(geração próxima aos pontos de carga, nas regiões Sudeste e Sul).
A bioenergia tem
que competir em leilões com combustíveis fósseis (termoelétricas a gás natural e a carvão)
e com outras renováveis que não apenas recebem incentivos especiais como também são geradas longe
das regiões de demanda. Inúmeros trabalhos científicos já apontaram as consequências negativas
para a população, que deve pagar os custos de transmissão do NE ate o SE.
Os leiloes
regionais certamente evitam estes problemas para o país e para a população.
Biomassa BR –
Que tipos de geração de energia por biomassa você destacaria, como principais potencias hoje?
Certamente o setor com maior importância é o setor sucroalcooleiro, não apenas pelo ouso do etanol,
mas também, pelo enorme potencial de geração de excedentes, contribuindo para retornar a matriz elétrica
brasileira aos níveis de sustentabilidade ambiental do passado.
Mas também é importante destacar
dois setores importantes para geração de energia:
- o setor de pellets, que ainda não aproveita
adequadamente o enorme mercado internacional, em particular a União Europeia. Há no país áreas
importantes para plantações sustentáveis de eucalipto para a produção de pellets, não
apenas para uso interno, mas também para exportação. Isso sem falar no aproveitamento inteligente de
resíduos de madeireiras e serrarias para este mesmo fim
- o setor de resíduos sólidos urbanos e
rural, que enfrenta dificuldades enormes relativas á disposição adequada dos resíduos e que ainda
apresenta enormes impactos ambientais, principalmente nos pequenos municípios e na zona rural (criações
de animais).
Com políticas adequadas de incentivos, a geração de energia poderia contribuir
para a viabilidade econômica do saneamento e para a redução dos impactos ambientais.
Biomassa
BR – Qual seria a ideal participação na matriz energética brasileira, se o potencial da geração
de energia por biomassa fosse aproveitado de forma mais inteligente?
O potencial de excedentes do setor sucro alcooleiro
atinge 10 GW (equivalente a uma Itaipu., o dobro do que ocorre hoje, se as políticas adequadas fossem introduzidas.
Da mesma forma outros setores como o madeireiro, arroz, entre outros, poderiam ter uma contribuição
muito maior do que a atual, como identificado no Atlas de Bioenergia desenvolvido pelo CENBIO (Centro Nacional de Referencia
em Biomassa, atualmente Grupo de Pesquisa em Bioenergia - GBio, IEE/USP), para o país e disponível no nosso
site: www.iee.usp.br/gbio
Biomassa BR – o setor da Biomassa em diversos países é uma
das principais, ou até mesmo a principal forma de gerar energia; O que podemos aprender com estes cases de sucesso?
A partir da experiência de países desenvolvidos como os países da União Europeia, podemos
verificar que o ponto principal são as políticas adequadas. No caso do aproveitamento de resíduos de
biomassa para geração de energia, é fundamental políticas de incentivo. No caso do setor sucroalcooleiro,
bastariam os leilões regionalizados e por fonte. No caso de RSU há necessidades de políticas mais importantes,
como participação dos órgãos de fomento em empreendimento de geração de energia.
Na UE, as plantas de incineração receberam importante contribuição da UE em forma de investimento
a fundo perdido (o exemplo da Valorsul, em Lisboa, Portugal, é emblemático). Linhas especiais de financiamento
para estes empreendimentos, em particular para os de pequeno porte (importantíssimos para os pequenos municípios
e para os produtores rurais) poderiam colaborar bastante.
Biomassa BR – Como você imagina o setor no
Brasil para os próximos 10 anos?
Se tivermos as políticas adequadas poderemos certamente retornar
a uma matriz energética com baixas emissões de carbono, uma vez que atualmente temos a participação
enorme das térmicas a combustíveis fósseis. Isso se reflete no perfil das emissões do país,
onde o fator de emissão de gases efeito estufa (fator médio anual) aumentou 5,5 vezes de 2009 a 2014 (de 0,0246
tCO2/MWh em 2009 para 0,1355 tCO2/MWh em 2014!).
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