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Análise: mudança na legislação automotiva é um retrocesso.

Publicado em 12/12/2013

A maioria das fabricantes já estava pronta para a obrigatoriedade do ABS e air bag

Faltam 14 dias para o Natal, mas o Governo pode antecipar o presente — de grego — para os consumidores de carro no Brasil. Umainacreditável mudança poderá postergar em dois anos a obrigatoriedade do ABS e do air bag em todos os carros vendidos no País.

Atualmente comuns e em grande número (no caso das bolsas infláveis) nos carros importados, a dupla de itens de segurança só começou a se popularizar no Brasil justamente com a obrigatoriedade imposta pelo governo em 2009.

Pivô do já chamado "tapetão automotivo", a Volkswagen Kombi poderia seguir em linha por mais dois anos, atingindo o triste recorde de 58 anos de produção sem alterações significativas em seu projeto — que nunca preveu a adoção de air bag duplo e ABS.

"Triste" porque em nenhum país sério a fabricação de um modelo tão defasado por tanto tempo seria comemorada. É fato que, em diversos mercados, modelos antigos são feitos em baixa escala para atender um mercado de fanáticos por clássicos e réplicas. Não é exatamente o caso da Kombi, que teve, até esta terça-feira (10), mais de 23,3 mil carros vendidos este ano — todos sem ABS e air bag

Quando ouço críticas sobre a qualidade de alguns dos modelos fabricados no Brasil e sua segurança discutível, costumo responder que "fábrica de carro não é ONG". Como qualquer empresa, seu objetivo é gerar todo o lucro possível dentro das leis de cada país. Assim, fabricar carros antigos e inseguros pode ser moralmente discutível, mas não é ilegal.

Com a mudança na legislação automotiva, iniciada em 2009, as fabricantes se viram obrigadas a incluir o airbag duplo frontal e o ABS em todos os seus modelos. A alteração seria gradual, de acordo com o percentual de produção de cada fabricante, culminando com a obrigatoriedade para todos os carros vendidos no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2014, beneficiando diretamente o consumidor

A imposição governamental se explica pela característica do mercado brasileiro. Ao contrário do que ocorre na Europa, por exemplo, no Brasil a segurança não vende carro. Vide o Renault Clio, que chegou ao país como o primeiro popular com airbag duplo de série e terminou como o mais defasado modelo da marca no Brasil — que, inclusive, não oferece os itens de segurança sequer como opcionais.

Esse triste cenário começou a mudar nos últimos três anos pela soma da nova legislação automotiva com o acirramento da concorrência. Com rivais mais modernos e equipados, as tradicionais fabricantes de populares (leia-se:Fiat, Ford, GM e VW) viram-se obrigadas a projetar carros antes dignos apenas dos europeus. Se até pouco tempo atrás o Brasil era País de Kombi e Mille, ele será em 2014 o produtor do up!, do novo Ka e de um inédito modelo subcompacto da Fiat. Isso sem contar os já atualizados Hyundai HB20, Toyota Etios e Chevrolet Onix

As novas regras levaram as principais montadoras por dois caminhos: adaptar seus produtos para receberem ABS e airbag duplo (caso do Celta e Classic) ou descontinuarem seus modelos. Este será o triste fim de uma minoria: de 17 carros que ainda não oferecem os itens de segurança, apenas quatro sairão de linha.

clique para ampliar>clique para ampliarObrigatoriedade Air bag e ABS (Foto: Divulgação)

Com isso em mente, fica a pergunta: até que ponto vale mudar uma regra que vigora há cinco anos para atender os anseios de uma pequena parcela do mercado? A resposta está no tamanho dessa minoria. Apesar de Mille, Ka,Kombi e Gol G4 venderem cada vez menos, eles são produzidos pelas chamadas "quatro grandes", grupo que reúne as montadoras há mais tempo em solo nacional.

Reunidas na Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), elas pressionam o governo com ameaças de demissões em massa e queda no faturamento no mercado de automóveis no Brasil — atualmente o quarto maior do mundo. Mais preocupada com números do que com o bom-senso, a associação foi a mesma que, há dois anos, pressionou por uma parcial mudança no IPI dos carros importados.

Em uma época pré-Inovar Auto, a Anfavea criticou a disparada nas importações — sendo que suas associadas são as que mais trazem carros de outros países para o Brasil. A associação também foi a primeira a criticar os péssimos resultados de alguns modelos nacionais nos testes do Latin NCAP, ao mesmo tempo em que suas filiadas exaltam a segurança dos poucos modelos bem avaliados.

Com absolutamente todas as fabricantes já preparadas para o "ano-novo" do ABS e airbag (celebrado, inclusive, com séries especiais), não faz sentido voltar atrás tão em cima da hora para continuar produzindo apenas quatro carros, sendo que somente um não tem substituto direto. E o argumento de que o aumento de preço (de R$ 1 mil, em média) prejudicaria as vendas é absurdo. É como sugerir que as fabricantes deixassem de oferecer cinto de segurança ou espelhos retrovisores para baratear seus carros e estimular a indústria

E nesse braço de ferro entre Anfavea, sindicatos e governo, quem mais perde é o consumidor, que poderá se orgulhar por mais dois anos de fabricar o mais antigo carro em produção contínua do mundo.

Fonte: Rodrigo Ribeiro, R7

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