2 de setembro de 2022
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Presidente da ApexBrasil aponta principais desafios para o comércio exterior brasileiro

Aumentar a base de empresas exportadoras, diversificar a pauta de produtos vendidos para o exterior e ampliar o número de países com que o Brasil mantém relações comerciais. Esses são os três grandes desafios para o comércio exterior brasileiro, na opinião do embaixador Augusto Pestana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Na última quinta-feira (1º), ele foi o principal palestrante do segundo dia do II Seminário de Negócios Internacionais do Paraná, organizado pelo World Trade Center (WTC) Curitiba, em parceria com a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), por meio de seu Centro Internacional de Negócios (CIN).

A abertura do segundo dia de programação do evento contou com a presença do presidente da Fiep, Carlos Valter Martins Pedro, que destacou a importância das ações promovidas pela ApexBrasil para incentivar as exportações brasileiras. Segundo ele, a internacionalização das indústrias paranaenses é também uma prioridade para a Federação. “O mercado internacional é muito importante no impulsionamento de negócios para as indústrias do Paraná. E o foco da nossa gestão na Fiep é gerar negócios para as indústrias”, disse. “Eventos como este têm o propósito de contribuir com o acesso a mercados internacionais, e precisamos intensificar nossa relação com outros países e nos complementar”, acrescentou.

Pestana ressaltou que a ApexBrasil está disponível para atender qualquer empresa que tenha interesse em ingressar no mercado internacional. “As portas da Apex estão abertas, tanto em Brasília quanto nos escritórios que temos pelo mundo, uma rede enxuta, que trabalha muito em sintonia com o Ministério das Relações Exteriores e com as embaixadas e consulados. Temos escritórios também nas cinco regiões brasileiras, então sintam-se todos em casa na Apex e usem nossas ferramentas e mecanismos”, afirmou.

Em seguida, o embaixador apontou o que classificou como os três grandes desafios para o comércio exterior brasileiro. O primeiro é a necessidade de ampliar a base de empresas exportadoras. “Hoje, na Apex, nossos clientes estão na casa de 13 a 14 mil empresas que recebem algum tipo de apoio. Algumas dessas empresas estão em processo de qualificação, então não necessariamente exportam. Mas quando a gente olha o potencial do Brasil e pensa nesse mar de CNPJs que tem condições de exportar, a gente vê o grande tamanho do desafio”, declarou.

Segundo ele, esse processo passa, principalmente, pelo ingresso de empresas de pequeno porte no mercado internacional, uma realidade já observada em países desenvolvidos. “Mais empresas significa também mais regiões do Brasil envolvidas. Mesmo no Paraná acredito que existam várias regiões que ainda não tenham se internacionalizado”, disse.

O segundo grande desafio, na opinião de Pestana, é a diversificação da pauta de produtos, bens e serviços exportados pelo Brasil. “E quando a gente pensa nessa diversificação, algo a que a Apex atribui grande importância é a ideia de agregação de valor. Somos um país gigantesco em termos de área, população e economia, e com uma base muito diversificada, então é natural que dessa base diversificada venha também um perfil exportador diversificado”, justificou. “É muito positivo que sejamos um grande ator na exportação de commodities, mas é essencial que tenhamos uma indústria pujante e que seja internacionalizada, assim como o setor de serviços”, completou.

Já o terceiro desafio está ligado à diversificação dos destinos dos produtos brasileiros. “Na história do Brasil, houve vários momentos em que havia um predomínio grande de algum um parceiro comercial. Já tivemos o Reino Unido e os Estados Unidos nessa condição, hoje é a China. Mas é inegável que, do ponto de vista do interesse brasileiro, é importante diversificar essa lista de parceiros. Na Apex, algo que fazemos muito bem com os empresários e associações é estabelecer prioridades para cada setor, não dá para querer abraçar o mundo”, explicou.

O potencial da Índia
Nesse processo de busca por novos mercados, Pestana apontou o Oriente Médio e o Sudeste Asiático como regiões com grande potencial para produtos brasileiros. Em especial, disse que a Índia deve estar no radar dos empresários do país. “Pelas estatísticas, a gente vê que a Índia hoje já tem a população da China. Tem um índice menor de desenvolvimento, em termos de renda per capita, mas está crescendo em ritmo de 8% a 9% ao ano, e continuará crescendo”, destacou. “Há uma comparação de que a Índia é hoje o que a China era há 20 anos. A China não era um parceiro econômico relevante do Brasil, era um processo que começava. E, daqui a 20 anos, não tenho a menor dúvida de que a Índia será um dos maiores, senão o maior parceiro comercial do Brasil”, afirmou.

Quanto à atração de investimentos estrangeiros para o Brasil – outra linha de ação da Apex – Pestana chamou a atenção para um movimento de realocação de cadeias produtivas globais, que vem sendo observado após a pandemia e o conflito no Leste Europeu. “Os Estados Unidos e a América do Norte talvez ofereçam uma oportunidade única pelas consequências de longo prazo da pandemia e das tensões geopolíticas. As cadeias globais de valor se espalharam, com forte exposição em mercados asiáticos. Agora há a percepção de que o alongamento dessas cadeias é uma fragilidade e várias empresas estão procurando encurtá-las”, explicou.

Para ele, o Brasil surge como um país que tem todas as condições para aproveitar esses novos fluxos de comércio. “É algo em que a Apex tem procurado trabalhar, que pode ser uma verdadeira revolução na economia brasileira, e não tenho dúvidas de que o Paraná vai se beneficiar muito disso”, concluiu. Em sua opinião, as indústrias farmacêutica e de semicondutores, além do setor de energia, estão entre os que têm maior potencial para atração de investimentos com essa nova realidade.

Outros temas
Além da palestra do presidente da ApexBrasil, a programação do II Seminário de Negócios Internacionais do Paraná foi encerrada com dois painéis de debates. O primeiro, com o tema “Como a cultura influencia os negócios internacionais”, contou com a participação de profissionais da Renault, AON, Philip Morris, Grupo Boticário e Electrolux. O segundo, sobre “Aceleração digital e inovações no comércio exterior”, teve participação de profissionais de empresas e instituições como Digicity Tecnologia S/A, iCities, Observatório Sistema Fiep, Deloitte e IBM. Houve, ainda, uma palestra com o vice-conselheiro sênior para Assuntos Comerciais na Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Joel Reynoso.

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