15 de setembro de 2022
Conselhos Temáticos e Setoriais | Setor energético
Cenário do sistema elétrico e pesquisas do Lactec são apresentadas em reunião

Após períodos de incertezas em decorrência da crise hídrica vivida em 2020 e 2021, o abastecimento de energia elétrica no país atravessa momento de estabilidade graças à recuperação nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. Esse panorama foi apresentado durante reunião do Conselho Temático de Energia da Fiep, na última quarta-feira (14), por representante do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN). A reunião foi realizada na sede do Lactec no Campus da Indústria, em Curitiba. Atualmente, o instituto de pesquisa desenvolve um projeto em parceria com o ONS para análise de vazão em algumas bacias hidrográficas das regiões Sul e Sudeste. Os integrantes do Conselho conheceram, ainda, as instalações do Laboratório de Eletrônica do Lactec.

A atuação do ONS foi apresentada pelo assistente da Diretoria de Planejamento do órgão, Fernando José Carvalho de França. Hoje, o SIN é composto por 1.157 usinas geradoras de energia, de diferentes matrizes, administradas por 804 agentes. Já a rede de transmissão soma quase 170 mil quilômetros, mantida por 258 agentes, com a expectativa de ultrapassar 200 mil quilômetros até 2026. “O setor elétrico é bastante complexo, tem uma multiplicidade de atores”, disse.

Entre esses atores estão também vários órgãos governamentais ou atrelados à gestão pública que regulam, fiscalizam e administram esse setor. “Nessa constelação, o ONS é um órgão que foi criado para cuidar exclusivamente da operação do sistema. Uma figura que pudesse ser desprovida de qualquer interesse do resultado comercial da operação para que pudesse buscar a melhor operação possível em cada momento”, explicou. “A nossa missão é garantir o suprimento de energia elétrica no país, com qualidade e equilíbrio entre segurança e custo global de operação”, completou.

Como 62% da geração brasileira é proveniente de usinas hidrelétricas, a questão hídrica é fundamental para o setor. “O sistema é majoritariamente hidrelétrico e ainda por um tempo razoável vai continuar a ser. Temos a felicidade de dispor de bacias hidrográficas espalhadas por um território que é praticamente continental e explorar a diversidade das hidrologias dessas bacias, esse é um grande diferencial do sistema interligado brasileiro. A gente tira partido da diversidade das condições hidrológicas dessas bacias e com isso consegue reduzir investimentos e o custo de operação”, afirmou.

Ao mesmo tempo, esse cenário traz desafios em momentos de crise hídrica, como a ocorrida em 2020 e 2021, em que a geração hidrelétrica foi reduzida, obrigando o maior uso de termelétricas, o que impactou diretamente na alta de custos da energia. Mas, segundo França, o cenário atual já é de estabilidade nos reservatórios, garantindo que os próximos meses serão mais tranquilos nesse ponto. “Viemos em uma sequência em 2020 e 2021 bastante estressante, mas em 2022 felizmente a gente está com uma condição de operação razoavelmente confortável, tem sido para nós um ano de alívio”, disse. “Em termos de análise prospectiva, a gente não tem nenhum ponto de atenção em relação ao atendimento energético até a virada do próximo período úmido. Estamos em um ponto de operação confortável e os recursos que a gente tem já são suficientes para que a gente consiga atender tanto a demanda de energia como a potência”, acrescentou.

Estudo de vazão
Para auxiliar no planejamento e prospecção que permanentemente realiza, o ONS contratou recentemente estudos de análise e revisão de vazões nas principais bacias hidrográficas brasileiras, que alimentam os reservatórios das hidrelétricas. Dois desses levantamentos estão sendo realizados pelo Lactec, instituto paranaense que está entre os principais do Brasil em termos de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Na reunião do Conselho, o coordenador do projeto e pesquisador da área de Meio Ambiente do Lactec, João Paulo Jankowski Saboia, apresentou o status do estudo, que tem 20 meses para ser concluído. Ele explicou que a revisão a cargo do instituto se refere a bacias hidrográficas das regiões Sul e Sudeste, abrangendo os rios Paraná, Paranapanema, Tietê, Grande, Paranaíba, Paraguai, Capivari, Iguaçu, Itajaí, Antas, Jacuí, Uruguai e Ijuí. Elas concentram 100 reservatórios de usinas hidrelétricas, com área de drenagem de aproximadamente 1,4 milhão de quilômetros quadrados.

Referência no setor elétrico
Os integrantes do Conselho conheceram, ainda, projetos que são desenvolvidos pelo Laboratório de Eletrônica do Lactec, muitos deles desenvolvidos em parceria com operadoras de energia de todo o país. “Temos o privilégio de ter um setor energético muito bem-organizado e limpo, com uma matriz extremamente renovável considerando as nossas hidrelétricas, mas nada acontece sem a tecnologia”, ressaltou o presidente do instituto, Luiz Fernando Vianna. “Para cada nova tecnologia que surge, você precisa de inovação, pesquisa e desenvolvimento, e o Lactec está preparado para isso”, completou.

Entre outros projetos apresentados ao Conselho, um dos destaques é a iniciativa desenvolvida em parceria com a Copel para a instalação de medidores inteligentes em unidades consumidoras. Um piloto do projeto está em implantação no município de Ipiranga, na região dos Campos Gerais, com a intenção de transformar a cidade na primeira do país a ter todas as unidades atendidas por esse tipo de medidor.

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