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ANALÍSE - 29/09/2015

Enfrentar a crise pode se transformar em um "quebra-cabeças"

Não existe fórmula pronta para a retomada da competitividade e da produtividade nas indústrias, que não devem demorar nas decisões, mas também não podem agir sob o "calor da emoção"

O atual momento da economia brasileira impacta as indústrias de diferentes formas, como a queda nos pedidos de clientes e aumento nos custos de produção. Mesmo que alguns setores industriais ainda consigam manter um bom nível de competitividade neste cenário, existe a necessidade de ajustes, que podem passar por mudanças no tipo de produto ofertado ao mercado, inclusive. Saber como lidar com a crise pode levar a resultados importantes para que a indústria possa vencer a turbulência. No entanto, não existe uma fórmula pronta para isto.

O maior comportamento de risco em um panorama como este é demorar a tomar algumas decisões críticas, especialmente quanto ao corte na estrutura de custos, segundo o gerente da área de fomento e desenvolvimento da Fiep, Marcelo Percicotti. “Por outro lado, agir sob emoção pode levar a um nível de corte de custos fixos e variáveis que pode comprometer o funcionamento da empresa em condições normais, o que dificulta a retomada dos negócios em um contexto mais favorável no futuro. É um quebra-cabeça e muitas pequenas indústrias podem necessitar de apoio. Muitas vezes, observa-se que a pequena indústria não tem como cortar custos ou acessar informações de mercado. A sua estrutura não apresenta condições de gerenciar essas necessidades”, salienta.

Momentos de crise podem afetar diretamente o planejamento de curto prazo, o que está relacionado diretamente com fluxo de caixa e investimentos. Por isto, faz-se necessária uma atenção especial à rentabilidade da indústria. “Ao invés de pensar em diminuir os preços de toda a linha de produtos, pode-se perguntar se tem alguns produtos de maior rentabilidade com menor sensibilidade à variação de preços. Ou seja, há produtos que posso aumentar o preço e obter maior receita líquida, mesmo com diminuição no volume de vendas? Não existe receita pronta, cada caso é um caso, mas essa reflexão pode ser útil em muitas situações”, aconselha Percicotti.

O gerente da área de fomento e desenvolvimento da Fiep cita uma apresentação do professor Otto Nogami, do Insper de São Paulo, para mostrar como as mudanças na produção fazem parte do processo de adequação ao momento de crise. O professor afirma que trabalhar na capacidade máxima nem sempre significa obtenção de lucro e que a baixa produtividade tem como contrapartida o aumento de custos. Por isto, torna-se essencial trabalhar com eficiência técnica.

“Isto significa que em uma grande empresa, baseada em uma produção em larga escala, o aumento da utilização da capacidade instalada pode se encontrar em relação direta com a diminuição dos custos de produção. Entretanto, em uma pequena indústria, pode acontecer que, a partir de certo nível de produção, que não necessariamente é a capacidade máxima, aumentar a produção pode significar que os custos totais cresçam mais rápido que a receita total. Representa que a empresa ultrapassou seu ponto de equilíbrio e está trabalhando muito, mas com retornos decrescentes”, esclarece.

Percicotti relata que a área de fomento e desenvolvimento da Fiep atende, com frequência, empresários de pequenas indústrias que afirmam que nunca trabalharam tanto e que não enxergam retorno disto. “Na maioria dos casos há uma necessidade de atenção maior para a rentabilidade, ainda mais em cenários de crise. Nesses momentos, deve-se olhar para o portfólio da empresa e refletir sobre a essencialidade de cada produto, não apenas no que se refere à participação de mercado, mas, também, na rentabilidade de cada produto”, ressalta.

No entanto, para retomar o nível de competividade, não basta à indústria agir de uma única forma e pensar apenas em produção. É preciso analisar qual a estrutura de custos ideal para o nível de produção, no qual exista um equilíbrio com uma maior rentabilidade e reforço de caixa. Percicotti também enfatiza a importância de uma inteligência comercial que amplie as vendas no curto, médio e longo prazo.

Alternativas

Uma saída para o industrial que enfrenta dificuldades é a aproximação com instituições de apoio, como os sindicatos e o Sistema Fiep, para acessar programas e recursos com custos acessíveis. No início do segundo semestre de 2015, por exemplo, a Fiep lançou o Programa de Apoio a Competitividade da Indústria do Paraná, que tem o objetivo de melhorar a produtividade da organização empresarial por meio de consultorias em temas como gestão financeira, gestão da produção e eficiência energética. Para as indústrias interessadas na internacionalização, o Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiep e o Sebrae/PR estão executando o Programa Inseri, como forma de preparar as pequenas indústrias para o mercado exterior. Nos dois casos, os programas são subsidiados e de baixo custo para as indústrias.