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O salto da genética

Publicado em 01/06/2017

Durante o mês de junho, cerca de 100 bezerros da raça angus devem chegar à central de genética bovina Seleon Biotecnologia, localizada no município de Itatinga, a 230 quilômetros da capital paulista. Mas não são bezerros quaisquer. São animais nascidos em rebanhos melhoradores, em importantes Estados criadores da raça, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, mais São Paulo. Todos eles estão inscritos no Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo), coordenado pela Associação Nacional de Criadores (ANC), no qual são medidas várias características de impacto econômico, entre elas o peso de nascimento, a capacidade de engorda, a conformação corporal, entre outras. Na Seleon, os dados continuarão a ser colhidos para o Promebo, mas as avaliações avançam. A partir de julho, pela primeira vez na Seleon, eles serão testados em prova de ganho de peso, suas carcaças serão analisadas por ultrassonografia para medir o índice de gordura e músculo, e o sêmen passará por provas de verificação de qualidade, em pesquisas que são pioneiras no Brasil e no mundo. O objetivo é identificar animais superiores que possam se tornar reprodutores de alta performance. Isso significa que a sua genética, ao ser utilizada em rebanhos comerciais, traz ao pecuarista de gado de corte destinado ao abate uma produção de carne mais eficiente. “Para produzir melhor, nós precisamos de um animal angus diferente para o Brasil, daquele que é comercializado em países como os Estados Unidos e a Argentina, principalmente para o mercado do Centro-Oeste”, diz Bruno Grubisich, 34 anos, dono e CEO da Seleon. “É fundamental que esses animais sejam bons na produção de sêmen, para o que chamamos de coleta de alta performance.” Não por acaso, o criador argentino Francisco Gutiérrez, diretor técnico e um dos herdeiros da cabanha Tres Marias, uma das mais famosas do país desde a década de 1960, já decidiu que na prova de 2018 da Seleon enviará bezerros para serem avaliados em Itatinga. Desde 2014, Grubisich, que é filho de José Carlos Grubisich, o CEO da Eldorado Celulose, investiu R$ 20 milhões em instalações na fazenda da família, a Bosque do Rio Novo, de 550 hectares, para construir a sua central de serviços genéticos. O projeto foi colocado de pé porque ele conseguiu investidores que acreditaram na sua proposta de trabalho com genética bovina e no futuro de suas investigações. Grubisich acessou uma linha de crédito de R$ 15 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública de fomento à ciência, tecnologia e inovação, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O valor precisa ser quitado até 2022. “Não somos apenas uma central de genética, mas uma unidade de estudo, em busca de uma pecuária cada vez mais eficiente para o País”, afirma ele.

No Brasil não há nenhuma pesquisa oficial, ou de algum instituto público ou privado, que mostre o tamanho do mercado de serviços dessa natureza e o seu impacto econômico no setor, mesmo desconsiderando o valor dos animais. Isso porque um reprodutor ou uma matriz pode valer de poucos reais à casa do milhão. Mas, além desse passivo imensurável, são desconhecidos itens mais acessíveis de levantamento de dados, como o valor da venda de sêmen e dos serviços correlatos, entre eles a aplicação da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), da Fertilização in Vitro (FIV), e da assessoria de profissionais, como consultores, veterinários e técnicos. Também entra nessa conta o mercado de medicamentos para o rebanho, que utiliza tecnologias de reprodução, e a nutrição envolvida na sua manutenção. Convidados por DINHEIRO RURAL, um grupo de especialistas do setor pecuário topou a missão de colocar um pouco de luz nesse cenário. Embora não venha de levantamento estatístico e deva ser olhado com a devida reserva, eles chegaram a um valor que impressiona pelo impacto do custo-benefício do setor de serviços genéticos em um rebanho de 212 milhões de animais, o maior do mundo destinado à produção de carne. É um mercado estimado em R$ 1,4 bilhão por ano, valor que responde por 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) da pecuária. No ano passado, a receita do segmento foi de R$ 458,2 bilhões, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea Esalq/USP). Esse mercado bilionário, sustentado pela genética, deve crescer a taxas da ordem de até 3% nos próximos anos, embalado pela necessidade da pecuária bovina em ganhar eficiência na gestão do negócio.

Por isso, a Seleon não está sozinha como investidora do setor. Nos últimos tempos, várias centrais têm destinado recursos para dar musculatura ao seu potencial de atuação no campo. Entre os exemplos estão as maiores do setor. Uma delas é o grupo belgo-holandês CRV, cooperativa internacional de melhoramento genético que pertence a 28 mil produtores da Bélgica e da Holanda, e que no Brasil detém o controle da CRV Lagoa, em Sertãozinho (SP). A outra é a ABS Pecplan, de Uberaba (MG), subsidiária da americana Genus PLC, que conta com centrais genéticas em 26 países e é a única companhia do setor com capital aberto. No ano passado, a receita global foi de US$ 500 milhões. O grupo CRV também está investindo R$ 20 milhões, mas de recursos próprios, para inaugurar neste mês a nova Central Bela Vista, empresa que atua há 15 anos no País e que foi comprada em 2011. A unidade prestadora de serviços de coleta e de armazenamento de sêmen a pecuaristas e a empresas que não possuem uma central, está saindo do município de Pardinho (SP), onde atuava em uma área arrendada, para Botucatu, a 30 quilômetros. A DINHEIRO RURAL esteve na nova central 20 dias antes de sua inauguração, em uma visita exclusiva. O imenso complexo de 130 hectares pode abrigar até 450 touros, conta com moderníssimos laboratórios e uma área para cultivos de grãos e capim. “Nós acreditamos no mercado da genética, porque é ela que muda a pecuária”, diz Gerson Sanches, diretor da Bela Vista, que há 30 anos trabalha nesse mercado. Já a ABS concluiu no mês passado a compra da In Vitro Brasil, especializada em tecnologias de Fertilização In Vitro (FIV) de embriões bovinos, presente também no México, Estados Unidos, Colômbia, África e Rússia. A primeira parte da aquisição, pela qual pagou R$ 49 milhões, ocorreu em 2015, por 51% da empresa brasileira criada em 2002. A segunda parte, prevista para ser negociada em 2018, foi antecipada para o mês passado e seu valor não é público. “A genética é o único insumo no campo que deixa um residual para as próximas gerações, afirma Márcio Nery, diretor da ABS Pecplan. “Quem usa gado melhorado vai ter sua influência nas próximas safras. Alimento e nutrição são os coadjuvantes para que essa genética se expresse, mas não há herança deixada.”

Para Sérgio de Brito Pietro Saud, presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) e diretor executivo da CRI Genética, de São Carlos (SP), empresa que utiliza as centrais de serviços, o mercado da inseminação artificial, que enfrentou três safras ruins, tende a reagir. O impacto se deu, primeiro em função do mercado internacional do leite e depois por causa da estiagem no período pré-estação de monta dos touros em 2016, que vai de outubro a janeiro. Sem pasto, a vacada magra não estava pronta para a inseminação (leia mais na pág. 8). “Mas a tendência é de crescimento desse mercado, porque a inseminação é uma tecnologia barata para o produtor de gado”, diz Saud. “Representa apenas 2% dos investimentos que uma propriedade faz em tecnologia.” O preço de uma dose de sêmen começa ao redor de R$ 20 e pode ir até acima de R$ 100, dependendo do valor da sua genética. Já os protocolos de IATF, que chegaram a custar R$ 60, hoje estão na faixa de R$ 18, graças ao avanço das tecnologias de preparação do sêmen.

Fazem parte da Asbia 32 empresas de inseminação. A produção de sêmen tem sido de cerca de 12 milhões de doses nas últimas safras de bois, oito milhões de doses no gado de corte e cerca de quatro milhões no gado de leite. Isso representa não mais que 12% do rebanho bovino. Mas, com um crescimento estimado em cerca de 5% ao ano, em uma década seriam 20 milhões de doses de sêmen processadas. O que ainda assim daria para inseminar cerca de 25% do atual rebanho de fêmeas. Está aí o interesse das empresas. É aqui que o mercado pode deslanchar. Os Estados Unidos já inseminam 80% de suas fêmeas, equivalente a 23,2 milhões de animais. Na Holanda, a inseminação chega a 90%. O mercado brasileiro vai competir com a Índia, por exemplo. O país, que possui um rebanho de 330 milhões de animais e tem trabalhado para desbancar o Brasil da posição de maior exportador mundial de carne bovina, utiliza 70 milhões de doses de sêmen.

Leia a reportagem na íntegra aqui.

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