Publicado em 21/05/2014
Fonte: Pedro Kutney, para Automotive Business
Diante da queda da produção de veículos no País, acumulada em 12% de janeiro a abril deste ano, os fornecedores de autopeças chegaram ao esgotamento de medidas para preservar empregos. Muitos já começaram a demitir e outros vão começar a fazer isso até o fim deste mês. “Os volumes caíram de formas diferentes para cada cliente, mas a retração varia de 5% a 15%. Isso exige do departamento de RH uma ação de ajuste de efetivo para se adaptar ao ritmo atual”, diz Adilson Sigarini, conselheiro e diretor de relações trabalhistas do Sindipeças e diretor de RH da ThyssenKrupp, que participou de painel com empresas de autopeças durante o II Fórum RH na Indústria Automobilística, realizado por Automotive Business em 19 de maio, em São Paulo.
Contudo, Sigarini enfatizou que as empresas do setor continuam “fazendo o possível e impossível” para evitar demissões e preservar seu capital humano, certas de que custa caro demitir e que, em caso de melhora do mercado, ficará difícil encontrar os mesmos profissionais já treinados.
“A causa principal da queda na produção é o mercado argentino, que passa por situação econômica difícil e parou de comprar do Brasil. Aqui o BNDES já liberou o Finame PSI (financiamento) e isso deve aumentar a produção de caminhões. No segmento de veículos leves também esperamos algum aquecimento. Mas o certo é que as perdas até aqui não serão mais recuperadas”, avalia o conselheiro do Sindipeças. Para ele, o nível de emprego das empresas de autopeças não deverá cair muito abaixo do atual número de empregados do setor, em torno de 200 mil pessoas. “Não creio que o ajuste seja muito forte”, opina.
Segundo pesquisa do Sindipeças revelada por Sigarini durante o Fórum, até agora 51% das empresas de autopeças já concederam férias coletivas normais este ano, 24% fizeram paradas extraordinárias, 22% cortaram a contratação de terceiros, 16% reduziram jornada de trabalho para compensação futura (banco de horas) e 10% lançaram programas de desligamento voluntário.
MOMENTO DIFÍCIL
“Este é um ano muito atípico, com crise na Argentina, economia em retração e muitos eventos. Mas o cenário é preocupante”, afirmou durante o mesmo painel Simone Eichenberger, diretora de RH da Eaton.
Fernando Tourinho, diretor de RH da Robert Bosch, informou que a empresa tem 10 mil empregados e no Brasil tem faturamento bastante dependente da indústria automobilística. “O problema é que as projeções não são confiáveis. Todo mês recebemos projeções de compras cada vez menores, mas para um prazo mais adiante as previsões são de crescimento, porque o cliente quer tenhamos capacidade de atendê-lo caso elas se cumpram. Dessa maneira é impossível fazer qualquer planejamento estratégico”, reclama. Segundo Tourinho, a Bosch já concedeu períodos de férias e fez algumas demissões pontuais. Agora deverá adotar férias seletivas, dependendo de cada área da empresa. “Neste momento precisamos de medidas de flexibilização de custos”, disse.
IMPACTO DAS MONTADORAS
Os participantes do painel também reclamaram do impacto gerado pelos programas generosos concedidos pelas montadoras aos seus empregados, com aumentos salariais acima da inflação e bônus de participação nos resultados (PLR) que muitas vezes superam o salário anual. “Claro que sentimos esse impacto, pois nossos funcionários pedem a mesma coisa e não temos a mesma condição das montadoras”, diz Simone, da Eaton. Para ela, alguns dos programas de PLR concedidos recentemente “fogem um pouco do bom senso”.
“É fácil oferecer tudo isso e apresentar a conta para o fornecedor pagar”, afirmou Paulo Borba, diretor de RH da Navistar/MWM International. “Eu gostaria de conversar com as montadoras sobre esses programas, porque esses acordos feitos dentro de parques industriais nos afetam diretamente”, defende Tourinho, da Bosch.
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