clique para ampliarclique para ampliar (Foto: Adobe Stock)

Nos últimos anos, causada pela preocupação com a poluição ambiental, o consumo de gás natural vem aumentando. Segundo a British Petroleum (BP), em 2017, o insumo representou 22% da energia usada no mundo, ou seja, quase um quarto da geração da eletricidade no planeta.

Mas a realidade brasileira ainda é bem diferente. Comparado a outros países, o Brasil consome um volume pequeno. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o País usou, em 2018, 35,9 bilhões de metros cúbicos de gás natural, valor bem abaixo de outras nações, como os Estados Unidos (817,1 bi), Canadá (115 bi) e China (283 bi). Mesmo países vizinhos menores têm um consumo maior, como é o caso da Argentina (48,7 bi).

Um dos motivos desse consumo reduzido é o elevado preço do insumo. Com baixa oferta e um mercado sem concorrência, o valor do combustível é um dos mais altos do mundo, superior ao de países que não produzem gás natural, como o Japão. Isso acaba elevando os custos e tirando a competitividade da indústria brasileira, responsável por 48% do consumo.

Para João Arthur Mohr, gerente dos Conselhos Temáticos e Setoriais da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o monopólio é o principal responsável pelo custo alto. “A Petrobras domina as três pontas: compra, transporte e distribuição, então não sabemos nem o preço que a empresa paga”, diz.

Mas esse sistema pode estar com seus dias contados. O Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE), órgão que assessora a Presidência da República para a formulação de políticas e diretrizes de energia, aprovou uma resolução liberando o mercado de gás natural no Brasil. “Na prática, isso significa que o controle sai das mãos da Petrobras, permitindo que as indústrias negociem diretamente com os fornecedores”, afirma Mohr.

Custo para a produção

O preço médio do gás natural para a indústria chegou a US$ 14 por milhão de BTUs em julho de 2017, o dobro do preço praticado na Europa (US$ 7 por milhão de BTUs) e mais do que o triplo dos US$ 4 por milhão de BTUs cobrados nos Estados Unidos.

Além disso, o preço dentro do Brasil varia por Estado, sendo o Paraná um dos mais caros da região sul. Isso porque, embora a Petrobras controla toda a cadeia de exploração, transporte, e participa da distribuição, que é regionalizada em companhias estaduais, com contratos diferenciados junto à Petrobras – no Paraná, a Compagas é a empresa responsável pela distribuição.

Em entrevista a Indústria em Revista, Celso Cavalli, presidente da Incepa, afirmou que trata-se de um prejuízo duplo. “Perdemos competitividade em nível nacional e internacional”, afirma. A empresa usa gás nos processos de secagem da pintura do esmalte dos revestimentos cerâmicos. Segundo Cavalli, o impacto do gás no custo de produção atualmente é de 20%.

Sobre as tarifas, Rafael Lamastra, diretor-presidente da Compagas, afirma que a empresa vem buscando novas formas de suprir as demandas da indústria. “Já estamos negociando a compra de gás para os próximos contratos de suprimento, antes mesmo da quebra do monopólio da Petrobras” afirma.

Novo Mercado de Gás

O programa lançado pelo governo federal, batizado de Novo Mercado de Gás, tem como objetivo incentivar o aumento de investimentos e diversificar o número de empresas que atuam no segmento. O passo mais recente nesse caminho foi dado em julho, com a assinatura do decreto que institui o Comitê de Abertura do Mercado de Gás Natural (CMGN).

Mohr explica que o mercado brasileiro está otimista com a expectativa da redução de 40% nos custos, chegando o preço a se aproximar do patamar europeu. “A Europa usa a mesma fonte de gás natural que o Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, que extraem gás das rochas de calcário. Esse tipo de extração não é permitido no Brasil e nem na Europa por questões ambientais” afirma.

Embora o panorama seja animador, o processo de desconcentração do mercado ainda deve levar alguns anos para ocorrer. Um acordo entre a Petrobras e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que obriga a estatal a vender ativos na área de distribuição e transporte, por exemplo, só deve ser concluído em 2021.

Com informações da Indústria em Revista.  

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