clique para ampliarclique para ampliar (Foto: Adobe Stock)

O primeiro alerta veio em 2013, quando um prédio de oito andares desabou em Daca, capital de Bangladesh. A tragédia deixou mais de 1.000 mortos e 2.500 feridos. No edifício, havia fábricas que produziam para algumas das maiores marcas e lojas do mundo, da Gucci à Prada, da Benetton à Primark. O acidente trouxe à tona as condições precárias em que eram confeccionadas muitas das roupas vendidas mundo à fora. O fato deu início a uma mudança no modo de consumir que reverbera até hoje.

O segmento mais afetado foi o fast-fashion — a fórmula básica de “produz-consome-descarta-repete” —, que é abastecido por roupas produzidas por mão de obra barata e vendidas a preços baixos. No ano passado, por exemplo, a Forever 21, uma das gigantes desse mercado, fez um pedido de recuperação judicial. A marca buscou a proteção da Justiça para renegociar dívidas com credores que podem chegar a US$ 10 bilhões e deverá fechar ao menos 350 de suas 800 lojas pelo mundo.

Por trás do colapso há o desafio que ameaça toda a indústria da moda: a mudança de comportamento do consumidor. Hoje, ele está mais conectado e informado, está ávido por experiências personalizadas e defende a sustentabilidade — ambiental, social e econômica.

“As gerações millennium e Z têm outra narrativa, são muito engajadas, atentas a isso. Deixam de comprar de marcas das quais discordam da conduta. O mercado está no corpo social. Não dá para separar. A empresa percebe a agenda social e faz ajustes de conduta para criar engajamento”, explicou Lilyan Berlim, pesquisadora do reLAB, Laboratório de Pesquisa em Práticas Sustentáveis da ESPM, em entrevista para a revista Época.

O fast-fashion se fortaleceu nos anos 1980 e 1990, quando a produção se deslocou para países pobres, onde não havia monitoramento das condições de trabalho nas fábricas. Segundo a pesquisadora, desde a tragédia em Bangladesh as gigantes da moda estão fazendo uma análise criteriosa de sua cadeia de fornecedores, com o intuito de coibir práticas como o uso de mão de obra infantil ou análoga à escravidão em suas produções.

O acidente deu início ao Fashion Revolution, iniciativa global disposta a transformar a forma como se produz e se consome moda em práticas mais sustentáveis e éticas, e que tem um braço no Brasil. Anualmente, o movimento publica o índice de transparência na moda. O ranking de 2019 lista 200 companhias, trazendo três grandes no topo: Adidas, Reebok e Patagonia, todas de artigos esportivos. Porém, mesmo estando no topo, elas bateram 64% dos 250 pontos totais.

Segundo estudo realizado pela consultoria PwC, os jovens preferem alugar, dividir, trocar - daí a exigência por itens de maior qualidade e durabilidade. Entendem que serviços baseados em compartilhamento oferecem melhor preço, acesso mais conveniente e diversas novas escolhas.

Tendo essa mudança de comportamento em mente, as redes multinacionais estão trabalhando para fisgar esse consumidor mais leal à propósitos que à marcas. De metas de redução de emissão de carbono, passando pelo desenvolvimento de insumos que causem menor impacto ao meio ambiente, a serviços de assinatura mensal para alugar roupas de grife, o vestuário costura sua transformação para manter o negócio girando.

“O consumidor está mudando. É cada vez mais exigente em sua decisão de compra. Quer produtos sustentáveis, mas também que a indústria trabalhe para gerar menos impacto. Quer transparência sobre práticas e ética. As empresas que estão nascendo agora já vêm com a obrigação de ser verdes ou não se mantêm. E, para ficar, quem já está no jogo tem de se transformar”, explicou Margareth Utimura, da consultoria Nielsen Brasil, em matéria publicada na revista Época.

Está mudança, segundo dados de mercado, já é relevante no Brasil. O grupo identificado pela Nielsen como o do consumidor que pensa verde é composto por pessoas que mudam hábitos por causa do meio ambiente e que afirmam não comprar produtos de empresas que fazem testes em animais ou associadas a trabalho escravo. Isso pesa na decisão de compra. “Elas já representam 7,7 milhões de lares no Brasil e 18,2% do faturamento do segmento de higiene e beleza. Ainda haverá muito crescimento”, apostou Utimura.

 Para conferir a pesquisa completa, acesse: http://automotivebusiness.com.br/pesquisaipsos.pdf

Com informação do site Época.

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